O TEMPO DA DELICADEZA –

A boa Música alimenta a alma. Não tem idade. Ela é eternizada pela letra e pela harmonia. Falo da música, cuja essência é pura poesia. A música que acalenta a alma e transmite a paz.

Nem toda música é poesia. Há músicas para a alma e músicas para o corpo, onde o ritmo contagiante traz alegria e vontade de dançar.

Minha vida sempre foi recheada de música, desde que eu nasci, a começar pelo meu nome de Batismo, que lembra um instrumento musical.

Ainda criança, aprendi a cantar as antigas modinhas que minha mãe cantava, acompanhada ao violão pelo meu avô paterno, Seu Bezerra, ou por ela mesma, que também tocava. Uma dessas modinhas nem se conhece mais. Chama-se “O Pajem”, ou “Pesadas Trevas”, cuja autoria não me lembro.

Hoje, o cancioneiro mudou e temos que conviver com ritmos agressivos e letras debochadas.

Mas as pérolas da MPB continuam vivas, como as composições de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, que o tempo jamais apagará.

Evaldo Gouveia de Oliveira (Orós, 8 de agosto de 1928 — Fortaleza, 29 de maio de 2020) foi um compositor, cantor e violonista brasileiro, que marcou época e ainda hoje é sucesso em rodas de seresteiros. Era o romantismo em pessoa.

Além de Jair Amorim, Evaldo Gouveia compôs com outros grandes compositores, como o carioca Paulo César Pinheiro.

O talento que Deus lhe deu o fez superar as dificuldades da vida.

Aos seis anos, já cantava num sistema de alto-falantes na praça de sua cidade, Orós, no Ceará. Aos onze, mudou-se para Fortaleza para estudar. Nessa época, trabalhava como feirante e não dispensava o violão nas horas de folga.

Aos dezenove anos, passou a tocar violão num conjunto e acabou conseguindo um contrato numa rádio local. Em 1950, formou o Trio Nagô, com Mário Alves (seu alfaiate) e Epaminondas de Souza (colega de boemia). Após representar o estado do Ceará no programa Cesar de Alencar, na Rádio Nacional, o grupo foi contratado pela Rádio Jornal do Brasil e posteriormente pelas boates Vogue (RJ) e Oásis(SP). Dois anos depois, iniciaram um programa semanal na Rádio Record (SP), que durou cinco anos.

Em 57, Evaldo compôs sua primeira canção, “Deixe que Ela Se Vá” (com Gilberto Ferraz), obtendo sucesso na voz de Nelson Gonçalves.

No mesmo ano, fez “Eu e Deus”, com Pedro Caetano, gravada por Nora Ney. A partir de julho de 1958, quando conheceu o também compositor Jair Amorim na UBC, sua carreira deslanchou.

Logo no primeiro dia de contato, compuseram “Conversa”, gravada inicialmente por Alaíde Costa, em 1959. Essa seria a primeira de uma série de 150 composições da dupla nos dez anos que se seguiram, normalmente sambas-canções abolerados, cujo primeiro sucesso de vendas foi “Alguém me Disse”, lançada por Anísio Silva em 60. Em 1962, o Trio Nagô se desfez com a saída de Mário Alves, mas Evaldo prosseguiu compondo com Jair Amorim, sucessos como “Poema do Olhar” (gravado por Miltinho) e o bolero “E a Vida Continua” nas vozes de Morgana e Agnaldo Rayol.

No ano seguinte, 63, Altemar Dutra fez muito sucesso, com a gravação de um bolero da dupla, “Tudo de Mim”, passando a ser seu intérprete mais constante com sambas-canções/boleros como “Que Queres Tu de Mim”, “Somos Iguais”, “Sentimental Demais”, “Brigas”, “Serenata da Chuva” e as marchas-rancho “O Trovador” e “Bloco da Solidão”. Moacyr Franco também vendeu muitos discos com o bolero “Ninguém Chora por Mim”, em 62, assim como Cauby Peixoto, no ano seguinte, com “Ave Maria dos Namorados”, lançada por Anísio Silva pouco antes.

Outros intérpretes da dupla foram Wilson Simonal, “Garota Moderna”, 1965, Agnaldo Timóteo, “Quem Será”, 1967, Jair Rodrigues, “O Conde”, 1969, a escola de samba Portela, “O Mundo Melhor de Pixinguinha”, 1973, Maysa, “Bloco da Solidão”, 1974, Ângela Maria, “Tango para Teresa” 1975, Jamelão, “Certas Mulheres” 1977, Dalva de Oliveira “E a Vida Continua”, além de Elymar Santos, Chitãozinho e Xororó, Gal Costa, Maria Bethânia, Zizi Possi, Emílio Santiago, Júlio Iglesias, Joanna, Cris Braun, Ana Carolina, Simone, Fafá de Belém, dentre muitas regravações.

Evaldo Gouveia teve uma vida profissional muito ativa e nunca esteve no ostracismo. As vezes em que fez show aqui em Natal, no Teatro Alberto Maranhão, era “casa cheia”. Sucesso garantido!

O grande músico, cantor e compositor cearense Evaldo Gouveia morreu aos 91 anos, em 29.05.2020, vítima do Covid-19.

Suas belíssimas composições, como “Sentimental Demais”, o eternizaram. E a lacuna por ele deixada na Música Popular Brasileira jamais será preenchida.

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora
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