O TEMPO –
Balzaquiana ou mulher balzaquiana é uma expressão que surgiu após a publicação do livro A Mulher de Trinta Anos (1831-32), escrita pelo francês Honoré de Balzac. Tal expressão se refere às mulheres com idade próxima à casa dos trinta anos e, mais recentemente, também às mulheres de até quarenta anos de idade.
Margarida era servidora pública e vivia para o trabalho. Depois de dois noivados desfeitos, fechou-se em amargura e resolveu dar um tempo a si mesma, para colocar as ideias em ordem. Revoltada com a leviandade dos homens, passou a se dedicar somente ao trabalho, dizendo sempre que o órgão público onde trabalhava, após aprovação em concurso, era “o marido de que precisava”. Seu trabalho garantia sua independência financeira e ela não queria mais pensar em casamento, pois, para ela, nenhum homem prestava.
Entretanto, uma vez por outra, batia em Margarida um vazio, ao ver as colegas casadas, separadas, viúvas, ou mesmo solteiras e livres, todas com suas histórias para contar, enquanto ela continuava sozinha e travada para assuntos amorosos.
Na verdade, pouca coisa ela tinha para contar.
De repente, passou dos trinta anos, tornando-se uma balzaquiana, e quando caiu em si, estava entrando na casa dos “enta”.
No dia em que completou quarenta anos, Margarida ficou depressiva, pois não viu o tempo passar. Bateu-lhe, então, uma certa tristeza, ao pensar que estava correndo o risco de envelhecer sozinha, sem marido e sem filhos. Quando menos esperasse, estaria com cinquenta anos. A velocidade do tempo estava lhe apavorando.
Apesar da sua ótima situação financeira, Margarida passou a sentir muita solidão. Resolveu tirar férias e viajar para o Rio de Janeiro, para se divertir. Talvez seu príncipe encantado ainda estivesse a caminho e ela conseguisse namorar e casar.
Margarida comprou roupas novas, da moda, deu um corte moderno no cabelo, colocou luzes, e ficou aparentando dez anos a menos. Era o que ela achava, ao se olhar no espelho. Sua autoestima aumentou consideravelmente. Tirou férias e viajou para o Rio de Janeiro, para se divertir com duas primas solteiras, que lá residem. Jurou para si mesma que iria descolar um grande amor.
E conforme planejou, chegando ao Rio, não perdeu tempo. Junto com as primas, divertiu-se pra valer. Mas a distância entre os sonhos e a realidade é grande. Do destino, ninguém foge. Margarida chegou a namorar com um viúvo reformado da Marinha, saiu com ele para jantar num restaurante fino, mas não pintou nenhum clima para que terminassem a noite num lugar mais íntimo.
Mesmo muito loura e com roupas sensuais, não conseguiu descolar nenhum namoro sério, como pretendia. Retornou a Natal, as férias terminaram e Margarida voltou à sua rotina. As amigas, loucas para se inteirar sobre as possíveis aventuras amorosas de Margarida no Rio de Janeiro, estranharam o seu mau humor, no retorno das férias. Quando lhe perguntavam se tinha arranjado algum namorado bacana no Rio de Janeiro, a resposta era uma só:
– O Rio de Janeiro é uma ilusão!!! Os homens de lá só querem as mocinhas do Funk e do pagode.
E Margarida continuou sozinha e donzela como nasceu.
Parafraseando a “Carolina” de Chico Buarque, “o tempo passou na janela e só Margarida não viu…”
Violante Pimentel – Escritora