O TRABALHO PARA RESSOCIALIZAR –
Cumpri o meu tempo obrigatório de serviço militar na Marinha de Guerra do Brasil, no ano de 1961.
Foram 14 meses de vivência militar. Na época, devido a minha habilidade com o futebol, fui, de certa forma, privilegiado — como de costume são todos aqueles que praticam esporte nas forças armadas.
Tinha tido uma feliz e marcada passagem na equipe do Riachuelo Atlético Clube (RAC), time pertencente à Marinha do Brasil.
Foi, a prestação do serviço militar, uma útil e necessária passagem na minha vida, com um legado imensurável para minha formação como pessoa, como cidadão.
Certo dia, assistindo a um telejornal da cidade, um assunto me chamou atenção, me despertou e me levou ao passado; o assunto em pauta tratava dos serviços gerais prestados pelos apenados do nosso Sistema Penitenciário em Unidades Auxiliares do Governo.
Evidentemente que esses penalizados são rigorosamente selecionados, obedecendo a severas regras disciplinares e regimentais, como: curtas penas a cumprir, boa parte já cumprida, delitos leves, bom comportamento, profissão definida, uma equilibrada história familiar etc.
Vale a pena esclarecer que para cada três dias trabalhados, o penitenciado ganha um dia a menos da sua pena aplicada; além de reduzir os custos para o Estado e, mais importante, manter a mente ocupada, mandando o capeta circular.
Diante desse fato, volta a lembrança do meu tempo militar.
Na época, o comandante da Base Naval resolve utilizar uma grande área de terra improdutiva nas cercanias da Base; autorizou aos seus subordinados a implantação de organizada horta para o cultivo de legumes e hortaliças.
Para cultivá-la, pensou em contar com a mão de obra dos justiçados do nosso Sistema Penitenciário. Solicitação feita e prontamente atendida pela Secretaria de Interior e Justiça, na época.
A empreitada teve resultado surpreendente. Com pouco tempo, surgiu uma “senhora” horta, de fazer inveja as mais organizadas plantações de verduras e legumes da região; satisfação geral: trabalho realizado com muito empenho, dedicação e muita produção.
O produto colhido, de primeiríssima qualidade, passou a servir bem a todas as Unidades da Marinha e às Penitenciárias do Estado.
Não me recordo de ter visto falar em nenhuma fuga durante o período que passei na Base. Era só alegria e prazer.
Ação como essa, que foi muito bem lembrada agora, no momento que alguns sentenciados estão prestando serviços gerais no Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado; a ideia é digna de louvor e de admiração, necessitando de uma nova avaliação, de um novo estudo, para voltar a vigorar com maior abrangência.
Com a palavra final, a Lei e os seus corregedores.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]