O TROCO –
Idalino e Lenira, ambos com 57 anos, eram casados há 30 anos. e tinham dois filhos, com 25 e 27 anos.
Júlio, o mais novo, muito calmo, casou-se com a primeira namorada e já dera um neto aos pais.
Tiago, o mais velho, era um “boa vida” e muito inconstante. Apaixonava-se facilmente e logo o fogo de palha se apagava. Era namorador e aventureiro. E tinha a quem puxar.
Lenira era uma esposa exemplar e dedicada à família. Filha de pais ricos, casara com Idalino, quando ele ainda era estudante de Direito. A mulher era proprietária de alguns imóveis herdados dos pais e tinha uma excelente renda.
Depois de formado, Idalino passou a exercer a advocacia, abrindo um escritório com dois colegas de turma.
Idalino vivia “pulando a cerca” e, certa vez, chegou a abandonar a casa, para morar com uma amante. Tempos depois, o relacionamento terminou, e ele conseguiu o perdão de Lenira, retornando ao lar. Jurou à esposa que jamais repetiria a loucura de deixar a família por causa de uma “vagabunda”.
Entretanto, poucos meses depois, voltou a ser o mesmo “conquistador barato” de antes.
Quando Lenira já estava certa de haver reconquistado o marido, apostando na sua fidelidade, Idalino, foi acometido, mais uma vez, de uma paixão violenta.
Através de um amigo, conheceu Cacilda, uma “mulher de programa” e virou a cabeça, como se fosse um adolescente.
Quando se viu, novamente, apaixonado, Idalino montou um apartamento para Cacilda, em um bairro afastado, refúgio para tardes de amor inesquecíveis, onde poderiam dar vazão à atração fatal que os unia. Tudo do jeito que o diabo gosta.
As noites eram livres para os dois. Ele, em casa, pousando de bom marido, ao lado da esposa, e Cacilda solta na noite, para fazer o que bem quisesse.
Tiago, o filho mais velho de Idalino e Lenira, era mulherengo igual ao pai e dava preferência às mulheres mais experientes. Casualmente, conheceu Cacilda em uma boate, e houve entre eles uma atração mútua. Pouco tempo depois, Tiago passou a dormir no apartamento dela. De dia era o pai, à noite era o filho.
O tempo foi passando e um detetive pago por Lenira, para seguir os passos do seu marido, informou-lhe que Idalino tinha uma amante de nome Cacilda, e tinha montado um apartamento para ela.
Dias depois, informou que a referida mulher estava traindo Idalino com um rapaz jovem, chamado Tiago, que subia para o apartamento dela todas as noites, depois das baladas.
Numa noite em que Idalino chegou em casa, dizendo-se exausto do trabalho no escritório, Lenira resolveu desmascará-lo, pois não aguentava mais tanta falsidade.
Cheia de ironia, a mulher falou:
– Idalino, tenha vergonha!!! Já estou cansada de ouvir suas mentiras. Eu sei que você passou o dia no apartamento de uma rameira, chamada Cacilda, como vem fazendo há vários meses. Pois fique sabendo que ela lhe põe chifres, com um rapaz muito jovem.
Idalino reagiu, agressivo:
– Pra “seu governo”, eu e você não temos mais nada em comum! Não adianta essa nossa convivência doentia, cheia de desconfiança.! Por conta dessas insinuações, vou me separar de você e agora é pra valer!!! Sem retorno!!!
Idalino saiu de casa indignado, dizendo que iria dormir no escritório. Entretanto, pela madrugada, usando sua cópia da chave, entrou no apartamento que mobiliara para Cacilda. e deparou-se com uma cena sórdida:
Seu filho Tiago e Cacilda estavam em colóquio amoroso animalesco, do jeito que nasceram.
Idalino tossiu alto, e agrediu o filho com bofetões e impropérios. Entretanto, não tinha moral para se voltar contra ele, que era um rapaz solteiro, livre e desimpedido. O adúltero, ali, era ele próprio, casado e com filhos.
Sem controle emocional, Idalino gritou para Tiago:
– Se você ama esta vagabunda, trate de dar o fora daqui com ela, agora mesmo! Arranje um emprego para sustentá-la, e não conte mais com o meu dinheiro!
Disse isso e saiu, sentindo um misto de raiva e decepção, por ter sido corneado pelo próprio filho.
Quando voltou para casa, o homem ainda encontrou a esposa dormindo. Deitou-se no sofá da sala, e ali permaneceu acordado, até o meio dia.
No íntimo, desejava que Cacilda lhe telefonasse, pedindo perdão.
Três dias depois, um empregado do prédio informou a Idalino que Cacilda havia se mudado dali, deixando a chave e um bilhete na portaria, para lhe serem entregues.
O bilhete dizia: “POR FAVOR, NÃO ME PROCURE NUNCA MAIS.”
Querendo ser agradável a Idalino, o empregado lhe disse baixinho:
– Acho que, agora, Cacilda se arrumou. O rapaz que está com ela parece que é muito rico. Foram morar num apartamento de luxo.
Idalino ficou perplexo. Sabia que o filho não tinha condições de bancar um apartamento luxuoso para ninguém. Ainda morava com ele e Lenira e tinha horror a trabalho.
O homem ficou de orelha em pé e jurou que iria descobrir de onde estava saindo esse dinheiro.
Na mesma semana, descobriu que quem estava bancando todas as despesas do filho e Cacilda era sua própria esposa.
Lenira, ironicamente, confessou tudo.
Revoltada por estar sendo traída novamente, a mulher procurou dar o troco ao marido, prometendo ao filho que assumiria todas as suas despesas com Cacilda, e incentivando-o a “casar” com ela.
A separação dessa vez foi definitiva. Lenira deu o troco a Idalino, pela traição que sofrera, ao longo desses trinta anos de um casamento, que se arrastou aos trancos e barrancos.
Violante Pimentel – Escritora