O VALOR DO ARTISTA –
Desde que nos entendemos por gente, aprendemos a reverenciar e reconhecer as mais populares formas de arte. Na música, na pintura, na escultura, na literatura, nos esportes, sempre fomos apresentados aos maiores e melhores artistas, assim respeitados pela evidente e celebrada excelência das suas obras e das suas atuações.
Através do Cinema, tomamos conhecimento dos grandes intérpretes das telas. Bing Crosby, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr, Nat King Cole, eram alguns dos expoentes masculinos, de uma constelação onde também brilharam vozes femininas como Doris Day. No jazz, gênero norte americano por excelência, brilhavam Ella Fitzgerald, Bessie Smith, Billie Holiday, Sarah Vaughn, Ray Charles, Louis Armstrong. Exemplos da música popular, onde imperavam grandes compositores como os irmãos Gherswin – Ira e George – Duke Ellington, Cole Porter e, por que não, o nosso amado Tom Jobim.
Eu, pelo menos, aprendi logo cedo, com o incentivo e o interesse dos meus pais – a minha mãe especialmente –, a respeitar grandes nomes da música no Brasil, como Orlando Silva, Sylvio Caldas, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Dalva de Oliveira e tantos outros cantores e cantoras que, através do rádio, nos deleitavam com suas vozes maravilhosas. Ainda adolescente, ouvi falar que, na longínqua Itália, brilhou um baixinho talentoso que percorria o mundo com sua potente voz, Enrico Caruso, e que, na Argentina, outro vigoroso cantante encarnava sentimentos e emoções dos seus românticos ouvintes: era Carlos Gardel, El Zorzal Criollo, e sua mundialmente disputada performance. A França nos legou as vozes de Charles Trenet e Charles Aznavour; tenores italianos mais recentes, Luciano Pavarotti atraiu o grande público para o bel canto, e Andrea Bocelli confirmou essa adesão. Na pintura, o que enche realmente os olhos e os sentidos são os temas clássicos, as obras dos grandes mestres. Da Vinci, Rubens, Caravaggio, Michelangelo, os impressionistas franceses, o vigor e originalidade de Van Gogh, os brasileiros Vitor Meireles, Pedro Américo e Cândido Portinari são exemplos de artistas geniais, cujos trabalhos atravessam os séculos sem perder a importância e a beleza.
Porém hoje, no mundo, as várias expressões da Arte estão niveladas, e parece que não é mais necessária a genialidade para exercê-la. O artista atual não precisa da excepcionalidade, da singularidade, da criatividade que são características dos criadores. No futebol, por exemplo, os grandes especialistas cederam o lugar para os vigorosos corredores e chutadores de bola, cujo objetivo é simplesmente marcar gols, sem preocupação com uma bela jogada. Na pintura e na escultura, há tempos tornaram-se comuns os sujadores de telas e montadores de geringonças, tidos como geniais. Não me importando em parecer ranzinza ou retrógrado, digo que muita coisa considerada arte é, na verdade, porcaria sem graça. Não ouviram falar de um “escultor” que exibia excrementos humanos em redomas de vidro e era festivamente aceito e celebrado em algumas galerias da Europa? Imagina esse tipo de “obra” para alguém como eu, que demorou a entender e aceitar as propostas do Cubismo de Picasso.
Na música, apoiados pelos abundantes recursos tecnológicos, principalmente no Brasil, muitos tornam-se artistas, cantores sem um timbre agradável, sem afinação, sem qualquer talento visível para isso. Porque certas músicas hoje são apenas um artigo descartável, de influência passageira e, paradoxalmente, sem compromisso com a beleza sonora. Um som ensurdecedor, um ritmo atraente e até uma letra de mau gosto facilmente penetram ouvidos ingênuos ou distraídos e são capazes de fazer milionário qualquer aventureiro da canção. Menos mal que ainda podemos contar com algumas obras de excelentes intérpretes e honestos produtores. Esses são os que se destacam e nos salvam da imersão total na mediocridade oportunista.
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais