O VAZIO –
O vazio é maior que um oceano, muito maior do que imaginei. O vazio machuca a alma, corrói o corpo, espreme o coração. O vazio caminha ao seu lado, mexe com o seu cérebro, parente da tristeza e da depressão.
Manhã de sol, o mar lindo com os primeiros raios do dia aparecendo, não tinha o barquinho a navegar. Estou só, o vento forte soprando como quem diz – A vida continua, vamos lute! Com dificuldades devido a minha coluna, resolvi caminhar. Desci até a beira mar, mas sentindo uma sensação diferente, um mundo estranho. Sentei na beira mar e senti a agua do mar bater nos meus pés.
Para um carro, o motorista desce abre a porta e como estivesse na sua casa, põe um som alto e escuto uma música de Edú Lobo – Só pra dizer Adeus, e começa “ Adeus vou pra não voltar e onde quer que eu var sei que vou sozinho. ” Pensei na vida, pensei na morte. A minha vida voltou por completo e vi que o meu passado muito está ligado ao presente. Lembrei da minha infância na Rua Seridó, do meu irmão José Maria, da minha mãe que brincava com a gente sentada no jardim, das brincadeiras de criança, mas eles não estão mais aqui, partiram. Da Rua Mossoró onde fiz bons amigos, boas amizades que duram até hoje. Lembrei dos amigos falecidos, alguns verdadeiros amigos, lembrei da minha escola primária da minha professorinha Maria Dourado, da primeira namorada (ela nunca soube) mas, eu era criança. Lembrei do Colégio 7 de setembro, do meu mestre Professor Fagundes que corria atrás da meninada , lembrei do Atheneu, os jogos no Ginásio Silvio Pedrosa, que ficava cheio nesses dias, pensei em mais de meio século em menos de dez minutos.
Parei um pouco, olhei novamente o mar, agradeci a Deus ter vivido todo esse tempo, mas o vazio voltava.
Passa uma bela mulher, um belo corpo e me viro para comtemplar. Corria toda cheia de acessórios, tênis, blusa e bermuda especial, veio a lembrança da Redinha onde bonitas moças caminhavam apenas de maior e eram belas.
Pensei no tempo. O tempo passou, minhas filhas cresceram, os netos também, Graças a Deus trouxeram alegria para mim e minha esposa que também só me fez feliz. Mas por quê o passado passa ligeiro, uma vida toda em menos de quinze minutos? Viver o presente? O presente está parado, o futuro basicamente não existe, para mim poucos sonhos, acabaram-se as quimeras.
Peguei um fruto do mangue pontudo que veio na maré e escrevi na areia, os versos de Edú Lobo.
“ Adeus vou para não voltar
E onde quer que eu var
Sei que vou sozinho”
Subi a rampa da Praia de Cotovelo, e do alto voltei a contemplar os versos. Não existiam mais, o mar apagou.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN
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