Encontrei o superintendente regional do Iphan-Rn, Armando Ribeiro Holanda, anteontem, numa solenidade na nova sede da OAB, em Natal. Falamos sobre o antigo Hotel dos Reis Magos e do posicionamento do órgão quanto ao destino do mesmo. Finalmente, prevaleceu o bom senso. Abaixo artigo nosso publicado no Jornal de Hoje, datado de 21.02.2014.
“Perguntar não ofende. Respondam-me, por favor, o que existe de tão importante na carcaça do finado Hotel dos Reis Magos que o impede de ser demolido? Sinceramente, eu não vejo nenhum valor histórico relevante naquela edificação para preservá-la com tombamento. Tudo bem! O velho hotel representa um retalho de passado não tão distante da vida de Natal e marca os primórdios do turismo no Estado. Mas, vamos e venhamos, daí até o tombamento se contabiliza uma carga de preciosismo deveras exagerada.
Concordo, que durante as três décadas de funcionamento do Reis Magos numa construção que hoje beira os cinquenta anos, muitas recordações ficaram acumuladas e ainda estão acesas na memória de saudosistas. Afinal, desde a diversidade de personalidades ali hospedadas, passando pelos encontros dominicais à beira da enorme piscina até às celebradas noitadas na boate Royal Salute, o Hotel dos Reis Magos funcionou como um cartão postal de Natal e registro vivo de uma época.
Efetiva-se o tombamento de um bem cultural levando em consideração suas características (no caso, a riqueza arquitetônica), sua história e o valor afetivo que apresenta. Isso após a comprovação de especialistas no ramo e o endosso da sociedade. Jamais mediante ato autoritário. E tem mais: desde que o tombamento não venha “congelar” ou “engessar” a cidade impedindo sua modernização ou progresso, injustificadamente.
Uso sempre como exemplo marcante o critério urbanístico utilizado no Wembley Stadium, em Londres, na Inglaterra. O lendário estádio foi inaugurado em 1932 e demolido 80 anos depois, em 2003, para dar lugar ao moderno Estádio de Wembley. Até aí tudo bem! Agora, demolir os 150 mil assentos da primeira grande arena esportiva do mundo e templo sagrado do futebol – o mais popular esporte do planeta -, fica difícil acreditar que tenham consumado tal proeza. Ainda por cima, para edificar um estádio capaz de acomodar apenas 90 mil pessoas ou 60% da capacidade original.
Sabemos que o velho Reis Magos é o retrato decadente de um antes festejado hotel, hoje desprovido de quaisquer características que o insira na atualidade. Deduzo ser antieconômico tentar uma restauração para adequá-lo à modernidade arquitetônica em vigência, fator essencial para mantê-lo como hotel. Se desprezadas as adaptações físicas requeridas pela legislação do setor ele não funcionará; tampouco, competirá com a rede hoteleira instalada em Natal. Daí o entendimento de que a demolição seria a solução ideal para o impasse do momento.
O Hotel dos Reis Magos está desativado desde 1995. Abandonado por quase duas décadas tornou-se uma terra de ninguém, um antro de prostituição e de drogas, uma nódoa incômoda num dos principais pontos turísticos da capital. Além do mais, Natal dispõe hoje de algo perto de 27 mil leitos. Seria o procedimento correto abrir um novo hotel, no exato momento em que observamos alguns existentes na área sendo desativados ou alugados para outras atividades?
Sem desmerecer o importante papel daquela estrutura hoteleira na história da cidade, sugiro guardar em arquivos escritos e fotográficos e nas gavetas da memória de cada um de nós as boas lembranças do Reis Magos. Agora, que tenhamos o bom senso de permitir que ali se construa aparelhos comunitários que embelezem a cidade e tragam retorno financeiro, progresso e modernidade para o bem de nossa terra”.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]