O VERDÃO DESCOROU –
Ano de 1963; ano de conclusão do meu curso secundário no Colégio Estadual do Atheneu Norte-Rio-grandense.
Morava no bairro do Tirol, tinha (sem outras opções) o “futebol pelada” como o único e melhor entretenimento; fazia das largas e arenosas ruas do bairro, o meu campo de ações e de embates “peladeiros ”. Era tudo que eu queria e o que mais me alegrava.
Logo, logo fui alçado pelos os olheiros, os caçadores de craques mirins; quando percebi já estava atuando no Estádio Juvenal Lamartine, — uma glória, um sonho!
Em um passe de mágica, em pouco tempo estava eu assinando o meu primeiro contrato como atleta profissional de futebol, no Alecrim Futebol Clube com apenas dezoito anos de idade; tudo era muito rápido, tudo era muito novo e, melhor, é que eu gostava.
Na época (final da década de 1950), o futebol potiguar tinha sofrido uma grande baixa técnica, com o afastamento temporário do América Futebol Clube para construir sua mega sede social; a forte equipe rubra que juntamente com o do ABC FC, constituíam as duas maiores forças representativas do futebol potiguar e as maiores ganhadoras de títulos.
O Alecrim Futebol Clube (1915), representante do bairro mais popular e populoso da cidade, era considerada uma equipe mediana, de pouca expressão no futebol do Estado; sem história e sem títulos oficiais.
No início da década de 1960, um grupo de entusiastas alecrinenses, capitaneado pelo comerciante e figura muito bem relacionada e querida da cidade, o baiano/natelense João Bastos Santana -“Seu Basto”, deu inicio com uma arrancada de velocista, organizando e estruturando uma bela, jovem e arrojada equipe.
Entregou a direção técnica a Pedrinha 40, o melhor treinador de futebol da cidade, que soube mesclar o grupo com jovens atletas e alguns veteranos bom de bola. Partiu como uma flecha em busca do objetivo maior e único, o de disputar e ganhar títulos.
Cinquenta e oito anos depois (2021), revendo toda essa caminhada histórica e vitoriosa do Alecrim, me vem a lembrança e a saudade de alguns dos meus inesquecíveis companheiros de equipe da década de 1960, que já partiram para um mundo desconhecido e inimaginável: Manuelzinho, Miro, Orlando, Jácio, Osiel Lago, Caranguejo, Capiba, Ferreira e recentemente Zezé: — verdadeiros guerreiros campeões.
Depois do ponta pé inicial no ano de 1963, o Alecrim FC, fez ainda vibrar a sua pequena e mais barulhenta torcida do Estado com os seguintes títulos: o bicampeonato em 1964, o campeonato de 1968 (invicto) e novamente bicampeão em 1985 e 1986, na era Machadão. Há relato de dois títulos: 1924/25 (não oficiais).
Hoje, o Alecrim FC descorou o verde do seu manto, sofre, padece e definha; encontra-se desde o ano de 2019 fora das competições oficiais da primeira divisão do futebol do Estado. É um time triste, inexistente e rebaixado; disputa a insignificante segunda divisão do campeonato do Estado e não consegue sair mais.
É triste e lamentável para os seus admiradores, e mais ainda, para aqueles que vestiram, honraram e se orgulharam em vestir e abraçar o seu manto verde e branco.
O verdão descorou!
O time Periquito acaba de perder o seu atual presidente Ubirajara de Holanda, em decorrência das complicações da covid-19. Meus sentimentos aos seus familiares e a todos que fazem o Alecrim FC.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]