OBREIROS E SACERDOTES – 

Na Rádio Cabugi, nos anos 1960, conheci o obreiro de uma igreja evangélica pentecostal do Alecrim, que semanalmente, aos sábados, chegava na emissora para gravar um singelo programa radiofônico, em que divulgava as atividades da sua congregação. Rodava o prefixo musical, fazia uma oração, leitura da Bíblia seguida de breve comentário sobre o texto lido, e informava aos ouvintes a programação da Igreja para a semana.

Nos idos de 1950, na Capela de São José, nos acostumamos à condução do padre João, sacerdote jovem, porém maduro, que se ocupava com zelo e cuidado da igrejinha da Guarita. Homilias serenas, envolventes, e a cuidadosa ministração dos sacramentos católicos faziam com que os fiéis se sentissem amparados e bem dirigidos pelo sacerdote. Na Igreja de São Miguel, em Extremoz, a mesma coisa. Não lembro os nomes dos padres de lá, mas a sensação era igual. Adolescente, no Oratório dos Salesianos, na Ribeira, em domingos de missa, catecismo, jogos e brincadeiras, éramos assistidos e acompanhados pelos padres que, conosco, participavam de todas as práticas.

Em 1966, quando comecei, por convite e decisão, a frequentar a Igreja Presbiteriana nas Rocas, encontrei um ambiente cheio de devoção e interesse pela doutrina e conheci líderes envolvidos no trabalho religioso, sem o ranço e os estereótipos que a tradição antiprotestante fazia crer que eram a marca daquelas congregações. Havia forte ênfase no ensino da Bíblia, através das reuniões de estudos e das Escolas Dominicais, e um especial trabalho de louvor e adoração, manifestado pelo cultivo da tradicional música cristã. Ali, acompanhados por um antigo órgão de fole e por sonoros acordeons, cantavam um belo Coral e talentosos solistas, sublinhando as leituras, os momentos de oração e os sermões dos pastores, cujas formação e segurança eram adquiridas nos Seminários cristãos presbiterianos.

Todos, padres, pastores e demais obreiros, embora muito distantes do exemplo de vida missionária do apóstolo Paulo, ainda mostravam uma honestidade de intenções que nos fazia acreditar e confiar nas suas lideranças. Algo que, infelizmente, é pouco observado nos dias atuais. Em que pese a aceitação ou não dos paradigmas desta ou daquela doutrina religiosa, dá para perceber que, hoje, os objetivos estão bastante desvirtuados em relação às verdades inerentes à religião cristã. Em todo o mundo, ocorreram alterações nas relações sociais e econômicas, em virtude do crescimento populacional, forçando – ou propiciando – algumas inevitáveis mudanças nas religiões, enquanto os meios de comunicação, capitaneados pela televisão, criaram condições para o surgimento de outros tipos de militância religiosa. Dessa forma, começaram a surgir, livres das batinas e de outros símbolos clericais, os padres modernos, midiáticos, autênticos superstars, cujo desempenho os assemelha a irrequietos animadores de auditório, assim como os autodenominados pastores e bispos, líderes de instituições recentes, interessados em pregar, não a comunhão com Deus, não o arrependimento dos pecados, não a salvação pelo sacrifício do Cristo Crucificado, porém, a solução dos problemas, o bem estar físico e individual, e a aquisição de bens materiais como recompensa pela contribuição financeira às suas igrejas.

Faz falta aquele senhor da igreja O Brasil para Cristo, que, com o pequeno programa semanal, cumpria sua missão evangelística, assim como fazem falta aqueles obreiros das calçadas, das escolas, dos presídios e dos hospitais, proferindo veementes pregações, divulgando o Evangelho de Cristo para conhecimento e conversão. Diferentes dos prestidigitadores que lotam simulacros de templos, promovendo teatrais sessões de “cura”, “libertação” e “descarrego”, e dos engomados que se aboletam em caros e enfeitados estúdios de televisão, com o claro propósito de arrecadar o parco e suado dinheiro de crédulos e ingênuos fiéis, na disfarçada intenção de alimentar suas próprias fortunas.

 

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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