ODE ÀS ESCOLAS –

Estando anos de atraso, deixei o medo de lado e ingressei numa Autoescola (com A maiúsculo, mesmo). Dizem que tudo acontece na hora e momento certos, quando estamos realmente preparados para lidar e aprender com as situações. Dizem que Deus “escreve certo por linhas tortas”.

Ao adentrar naquele universo até então desconhecido, minhas expectativas não eram muito altas, imaginava “zilhões” de adolescentes “afoitos” loucos para adquirir a tão sonhada carteira de motorista, loucos (no sentido literal) para “badalar” mundo afora. Esperava aulas intermináveis, insuportáveis, sobre leis e placas de trânsito, esperava, antes de começar, que tudo acabasse logo.

Até que ponto a ignorância e o preconceito nos fazem evitar experiências que podem ser maravilhosas, que podem, literalmente, mudar uma vida ou uma visão de mundo. Encontrei uma classe heterogênea, havia pessoas de todas as idades, gêneros e personalidades, que derrubaram rapidamente o meu mundo fechado. Havia tantas pessoas, tantos motivos, tantas idades e histórias que não pude me enrodilhar numa concha (como já havia planejado) e fui impelida a participar, a conhecer e, sobretudo, a dar o devido valor àqueles momentos.

Lá não se ensina/aprende apenas as leis, as regras de conduta e as sinalizações contidas no Código de Trânsito. Naquele lugar, aprendi muito sobre respeito, consideração e equidade. Fiz amizades, umas passageiras e outras que tenho certeza que ficarão para sempre. Lá aprendi a dar mais valor à vida, à natureza e ao próximo.

Toda experiência vivida cria raízes e altera o nosso comportamento, mas o período passado nas aulas práticas e teóricas exigidas pelo DETRAN me transportaram para um passado distante, quase apagado e distorcido na memória: os tempos da escola. E nem digo faculdade, mas escola mesmo, onde a interação e tantos outros valores, cheirando a bolor, recriaram vida e voltaram com força total.

O tempo de ingenuidade, de confiança, o tempo onde o desejo de aprender a próxima letra do alfabeto tinha mais valor que a nota da prova. Não posso, e nem devo, retirar o mérito de meus professores e instrutores, mas a interação, o senso de solidariedade e a vontade de ver o outro progredir surpreenderam uma cética, que ainda estava na Idade da Pedra. A atenção, o cuidado e a paciência são práticas comuns, e o amor pela profissão salta aos meus olhos despreparados.

Nem tanto pela “arte de dirigir”, o que, por sinal, foi passado e repassado com o cuidado e a consciência necessários, mas as lições de lealdade, afeto e os fortes laços de amizade permanecerão ad infinitum em minha vida. Reensinando o que os nossos incríveis professores deste país nos passaram, mas que, talvez pela falta de maturidade, de entendimento da vida como um todo e não como um capítulo, nos impediram de aprender adequadamente.

Agradeço pelos momentos, pela atenção e carinho dedicados não só a mim, mas a todos os alunos, e agradeço em especial a Luciana e sua equipe, que me fizeram sentir bem-vinda, e não “bem velha”, para frequentar aquele curso.

Espero que todos nós possamos passar por uma experiência semelhante, no trabalho, em cursos ou na própria educação tradicional, para que possamos entender o verdadeiro valor da dedicação.

 

 

Ana Luíza Rabelo Spencer, advogada ([email protected])

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