OITO… –
Era o dia 18 de uma terça-feira, do oitavo mês do ano. Às 18h lá estava eu subindo na balança da farmácia, localizada no centro da cidade, decidida a me pesar e determinar metas. Não era segunda-feira, dia internacional das dietas. Todos que estão acima do peso prometem: de segunda-feira não passa, eu começo a dieta! Pois bem, decidi não fazer parte do clichê. Terça-feira era um bom dia para iniciar a redução alimentar, e se eu desse com os burros n’água não cumprindo com o prometido, pelo menos teria sido original.
Depois que a balança saltou e quase quebrou o ponteiro, mostrando o quanto eu estava sobrecarregada das comilanças da vida, das tortas e bolos, lasanhas e feijoadas irresistíveis, ouvi aquela vozinha me chamando aos carreteis, dizendo: Você tem três meses para perder oito quilos, o que dá uma média de 2,650 gramas por mês. Não tem erro e não é nenhum esforço impossível de realizar. Cortar a massa e o doce é um bom começo. E eu acredito muito em você.
Ora, aquilo me veio como uma facada. Cortar logo as tortas e bolos, lasanhas e feijoadas irresistíveis? Pensei melhor. Manda quem pode, obedece quem tem juízo, como está no dito popular. Eu já tinha ouvido a mesma vozinha antes. Era minha razão me puxando a orelha, meu lado certinho para o caminho reto. Eu deveria ser determinada, ouvir a razão e começar, o quanto antes, cortando as guloseimas e caprichando nas atividades físicas.
Pronto! Oito. Tudo agora girava em torno do oito. E não pensem que é paranoia não. Hoje cedo abri o meu Facebook e dei de cara com uma postagem feita por uma amiga de faculdade. Ela fazia uma linda homenagem ao seu filho, que estava aniversariando. Adivinhem quantos anos o garoto estava completando? Isso mesmo, oito anos. Placas de carros, números de telefones, datas comemorativas… Eu agora só atentava para o numeral oito.
Daí, pensei: será que minha razão tinha um motivo específico para escolher o oito, além de ser um número par dos quais tanto gosto? Sinto gastura por números ímpares, não sei explicar, mas quando vejo números ímpares me sobe um sentimento de piedade, tenho pena deles. Um sempre ficará só. Mesmo que se uma a uma dupla sempre será uma ponta… A rebarba. O resto. Gosto mesmo é dos pares. Das duplas, quadras, oitavas… Lá vem o oito de novo.
Bom, que ele, o oito deitado, representa o infinito, isso eu já sabia. Agora, será que isso quer dizer que minha dieta é infinita? Quer dizer que nunca mais poderei provar minhas tortas e bolos, lasanhas e feijoadas irresistíveis? Ou será que, sendo o oito a simbologia do mundo futuro – segundo ensina Santo Agostinho -, estaria eu condenada, caso não atinja a meta dos oito quilos a menos, a não avançar etapas, a não conseguir a libertação e purificação do corpo e, com isso, perder a salvação da alma?
Na última das hipóteses, poderia ficar com a representação do oito nas cartas de tarô – o que me levaria a crer que minha razão estaria sendo sutil ao mandar fazer exercícios físicos para endurecer as carnes – sendo ele, o oito, visto como o ritmo, a respiração, a circulação e a energia da pessoa.
Em todo caso, não vou discutir com minha razão – todas as vezes que tentei argumentar com ela, levei a pior. Mãos à obra, ou melhor, boca fechada e corpinho em movimento. 71 quilogramas me aguardem! Sete mais um igual a oito, vixe!…
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crô[email protected]