OLHANDO PARA TRÁS… E TAMBÉM PARA FRENTE! –
Recebo mensagem de nosso João Victor: “mãe, você tem foto de vovô quando ele era novo?”.
Esperei minha reunião terminar e saí a procurar um álbum de minha infância. Acho que nossos filhos nunca entenderão minha loucura por fotografias. Organizei com carinho os álbuns das festas de aniversário, viagens em família, comemorações de Natal, veraneios. Fotos impressas, foscas ou brilhosas, dependendo do ânimo. Em alguns momentos vou ao armário e pego um destes álbuns. Confesso que, às vezes, eu e Flávio temos dificuldade em reconhecer se é João Victor ou Felipe em certas imagens. Precisamos olhar as roupas ou o coleguinha da foto.
Quando falamos isso a eles escutamos um som contrariado como se fosse inacreditável não sabermos quem é, mesmo com uma diferença de quase seis anos de um para outro.
Falando sobre as fotos… Viajei com minha turma do Pré-vestibular em 1991. Na mala levei roupas, sapatos e uma máquina Kodak. Ganhei um filme de 36 poses. Para uma viagem de sete dias, passando por Recife, Maceió e Salvador, daria esse filme para usar a viagem toda? Gastei quase metade disso dentro do ônibus, com fotos dos amigos dormindo ou cantando. Estudei na mesma escola minha vida toda. Dividi os quatorzes anos dos bancos escolares com praticamente as mesmas pessoas. A viagem foi fantástica, para registrar tudo precisei comprar outro filme de 24 poses quando cheguei a Salvador.
Hoje, nas saídas de domingo para almoços em família, precisaria ser milionária para revelar todas as fotos que faço. Fotos e mais fotos que ficam perdidas nos celulares ou postas no drive aguardando o momento que eu tenha tempo para organizá-las. Prefiro a forma antiga. De verdade. Já vinham reveladas e copiadas.
Nosso João Victor me fez abrir um álbum que estava fechado nem sei quanto tempo. Mostrava mamãe grávida, papai com ela em frente à maternidade, meus primeiros meses de vida passando de colo em colo a cada foto. Fotos da minha primeira festa de aniversário! Isto me fez lembrar as festas que fizemos para nossos filhos. A do nosso João teve o tema Arca de Noé. De nosso Felipe foi o Arraiá do Felipinho. Minha festa foi um bolo lindo! Com a vela de 1(um) aninho acessa, com os amigos mais próximos e familiares, todos ao redor da mesa, esperando apenas iniciarem os “parabéns pra você” para a alegria festiva. Sem tema, sem decorações mirabolantes. Gente do céu! Cada sorriso lindo mostrando um amor que não se explica.
Peguei este álbum com suas fotos amareladas (45 anos, baby! As revelações não eram excepcionais e as imagens estão longe das que nos acostumamos atualmente) e fotografei de meu celular muitas delas, mandando pelo whatsapp para o grupo da família, intercalado com áudios dizendo: mãe veja o vovô na sua escrivaninha. Olha a vovó! Como você estava linda, mãe, nesta foto. Pai, você era um gatão com calças boca de sino e costeletas vindas quase até o queixo!
Não deu! Foi necessário fazer uma ‘vídeo chamada’ para dividirmos a alegria de termos estes momentos. Momentos na memória, ou apenas, criados a partir da imagem fotografada (só eu tenho estas dúvidas?). Não importa! Estas lembranças nos fizeram dar risadas altas, gargalhadas estridentes, três gerações juntas, mesmo estando cada um em seu cantinho, mas recriando novas memórias.
Nas fotos de quarenta e cinco anos atrás, vemos pessoas que não estão mais entre nós, mas que fazem uma falta danada. Quantos momentos saudáveis, quantas alegrias. Quantos rostos felizes. No entanto, mesmo sabendo que estão longe, as lembranças dos momentos vividos nos fazem pertos.
Hoje reservei para mim a expectativa de abrir mais tarde outro álbum. Olhar outras fotos. Lembrar de outros momentos. E assim tornar tudo mais leve.
Simples assim.
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e professora universitária