DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes Da Cunha Lima

Olhar é dirigir o olho, fitar.  Falta um certo compromisso no observador.  Ver é apreender a coisa, talvez seja mais do que isso, seja compreender.  Ver é conhecer pela vista.  Olhar é fixar o olho, a vista em alguma coisa.  Quem olha nem sempre observa o detalhe, nem confere importância superior à coisa observada.

O olho foi o maior presente que Deus deu ao homem, nele o sentido superior aos outros.  O que vejo passa a fazer parte de mim: sou o que vejo.

Devo ao Festival de Cinema de Natal (viva Valério Andrade!) a amizade nova e boa com Lucy e Luís Carlos Barreto.  Com o casal se aprende logo que pessoas geniais podem ser, não deuses que fazem concessões, mas pessoas simples e encantadoras.

Estou convencido de que Luís Carlos Barreto, quer no cinema, quer na fotografia em preto e branco tem um tema único: o homem na natureza.  O diafragma de sua maquina fotográfica é vivo, é a pupila do seu olho.

Recebo o livro Passagem – A memória visual de Luís Carlos Barreto.  Este livro, ele só, é suficiente para mostrar a glória do seu gênio, a onisciência do seu olhar. O seu olhar não vê tudo, vê pedaços de vida, fixa o que deve permanecer, o instante único e irrepetível, a beleza surrealista, a beleza do comum e até mesmo do banal.  Tenho um poema sobre o antigo bairro da Ribeira.  Sanderson Negreiros valoriza o verso que diz:

Na Ribeira, só o que passa permanece.

  1. C. B. prende o movimento, é dono do instante, confere perenidade ao que era transitório e fugaz. E na fotografia só o que passa permanece.

As fotografias maravilhosas registram meninas e meninos, velhos e velhas, jogadores de futebol, momentos de beleza e irrepetível de Marlene Dietrich, Sophia Loren, Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot, Kim Novak, Gina Lolobrigida.  Luís Carlos faz de um banco de jardim um leque para a velha senhora.  Os líderes: Juscelino ganha a força da solidão no exílio de Paris entre as folhas do outono.  Kruschev mostra a alegria.   Che Guevara, herói, contrasta com a figura caricata de Jânio Quadros, Peron exibe a sua importância e Café Filho a sua compostura.  Baden e Vinícius de Morais encantam Milene Demongeaut enquanto Frank Sinatra ordena e Amália Rodrigues canta.  Os noivos tornam líricas as vitrines e a igreja abandonada, violino e violão tocam talvez para Roberto Rosselini.

Tudo isso tem o fascínio de Luís Carlos Barreto e a força do seu olho.  Tudo vive, as coisas inanimadas passam a ser orgânicas pela fidelidade de interpretação de sua consciência visual.

Sonho com um Templo inspirado em um olho, talvez até com este nome.  Sonho é um projeto de Oscar Nieymer para conservar as belezas vistas por Luís Carlos Barreto e outros grandes mestres da imagem feita de luz.  O Templo do Olho ensinaria muita gente a ver melhor.  E a ser mais humanamente bom.

Diógenes Da Cunha Lima – Poeta, escritor e presidente da Academia de Letras do RN

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