Suplementos de ômega 3: ingestão de 1 grama por dia é suficiente para modular positivamente o envelhecimento biológico. — Foto: Pexels
Suplementos de ômega 3: ingestão de 1 grama por dia é suficiente para modular positivamente o envelhecimento biológico. — Foto: Pexels

A suplementação com 1 grama de ômega-3 pode retardar o envelhecimento biológico em humanos.

Isso é o que mostra uma pesquisa recém-publicada na revista “Nature Aging”, que analisou dados de um ensaio clínico com mais de 700 idosos ao longo de três anos.

Estudos anteriores já sugeriam que a restrição calórica poderia ter esse efeito. Outros trabalhos em animais e ensaios menores também indicavam benefícios de substâncias como vitamina D e ômega-3, mas a eficácia em humanos ainda era incerta.

➡️ Agora, segundo o estudo, há fortes evidências de que a ingestão de 1 grama de ômega-3 por dia é suficiente para modular positivamente o envelhecimento biológico.

Para chegar a essa nova conclusão, os pesquisadores utilizaram ferramentas de biologia molecular conhecidas como relógios epigenéticos para medir os impactos da suplementação. O ensaio envolveu 777 participantes com 70 anos ou mais na Suíça, que foram divididos em oito grupos.

Durante três anos, eles receberam doses diárias de 2.000 unidades internacionais (UI) de vitamina D, 1 grama de ômega-3 e praticaram exercícios físicos por 30 minutos, três vezes por semana.

⏰ ️Com isso, a análise do sangue desses pacientes revelou que o ômega-3 desacelerou o envelhecimento biológico em até quatro meses, independentemente de fatores como idade, sexo ou índice de massa corporal.

Já a combinação com vitamina D e exercício mostrou um efeito ainda mais significativo, reduzindo o risco de câncer e fragilidade.

Os pesquisadores sugerem que a interação entre esses três fatores potencializa seus efeitos, reforçando a importância de uma abordagem integrada para promover a longevidade saudável.

“Uma das grandes questões no campo do rejuvenescimento é se existe um tratamento capaz de rejuvenescer seres humanos, e não apenas camundongos”, conta ao g1 a professora Heike Bischoff-Ferrari, médica e doutora em saúde pública, da Universidade de Zurique, e principal autora do estudo.

 

“Para responder a essa pergunta fundamental, realizamos um rigoroso ensaio clínico utilizando os relógios epigenéticos mais modernos e validados”, acrescenta.

Relógio do nosso DNA

Heike explica que esses mecanismos biológicos funcionam como uma espécie de “marcador do tempo” das células, ou seja, são formas de medir quão envelhecido está o organismo de uma pessoa em relação à sua idade cronológica.

Isso é feito por meio de alterações químicas no DNA, chamadas de metilação.

➡️ Em outras palavras, esses “relógios” conseguem indicar se o corpo está envelhecendo mais rápido ou mais devagar do que o esperado.

E vários modelos foram desenvolvidos para avaliar esse processo, sendo alguns deles focados no risco de mortalidade e outros no ritmo do envelhecimento.

A pesquisa, contudo, mostrou que o consumo de ômega-3 desacelerou esse processo em três dos quatro modelos analisados.

Ao g1, a pesquisadora reconhece, no entanto, que ainda não existe um padrão universal para medir o envelhecimento biológico. Além disso, ela destaca que o estudo foi realizado apenas com idosos suíços, o que pode limitar sua aplicação global.

Isso acontece porque outros fatores como genética, hábitos alimentares e acesso à saúde podem influenciar os resultados quando aplicados a diferentes populações.

Provavelmente, tivemos um viés conservador, já que, [no estudo], os participantes suíços eram os mais saudáveis, com mais de 50% atendendo à definição inicial de envelhecimento saudável, sem grandes doenças e com boa funcionalidade. Como próximo passo, queremos expandir essas análises para todos os participantes, incluindo aqueles da Alemanha, França, Áustria e Portugal, que apresentam maior diversidade genética e de estilo de vida
— Heike Bischoff-Ferrari, médica e doutora em saúde pública, da Universidade de Zurique.

Já na visão da nutricionista funcional Gisele Haiek, que não participou da pesquisa, o estudo reforça a importância de uma abordagem integrativa e personalizada para a longevidade: “O estudo foi feito com participantes suíços, então muito provavelmente os resultados podem ser diferentes se usássemos pessoas com dietas e estilo de vida diferentes. Mas penso que os resultados poderiam ser ainda mais promissores aqui no Brasil”.

Haiek chama atenção também para o fato de que na Suíça, muitos idosos têm acesso a um dos melhores sistemas de saúde do mundo, enquanto no Brasil há desafios estruturais que podem influenciar diretamente na saúde na terceira idade, como a deficiência na ingestão de proteínas.

Por isso, ela sugere que, ao corrigir essas deficiências básicas e incluir os elementos estudados, os efeitos positivos poderiam ser, de fato, mais pronunciados.

➡️ Outro fator importante é a BAIXA ingestão de ômega-3 na dieta ocidental, o que pode comprometer seus benefícios.

Entre as causas que contribuem para essa deficiência estão a redução do consumo de peixes ricos nessa substância, como salmão, sardinha e arenque, e a prevalência de peixes de cativeiro, alimentados com ração artificial que compromete seu teor nutricional.
— Gisele Haiek, nutricionista funcional.

Para conter essas lacunas, Heike explica que o próximo passo da sua pesquisa será reunir cientistas e empresas para criar uma plataforma focada na longevidade saudável.

A meta é aplicar tecnologias que permitam medir o envelhecimento dos órgãos e detectar problemas de saúde mais cedo, com soluções que possam ser utilizadas em vários países.

Fonte: G1

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