ONDE ESTÁ O NÓ GÓRDIO? –
Durante anos – e ponha anos nisso! – eu pastoreei a malha rodoviária do Rio Grande do Norte na condição de engenheiro. E não foram poucas as vezes que ouvi dizerem: “A malha rodoviária da Paraíba é a melhor do Nordeste; e põe a do Rio Grande do Norte no chinelo”. Aquelas vozes alardeavam a pura realidade dos fatos.
Entristecia-me notar a diferença entre as duas malhas, considerando que utilizávamos a mesma tecnologia construtiva, os mesmos materiais e procedimentos ditados pelas normas técnicas e, às vezes, calhando de construtoras responsáveis por obras semelhantes trabalharem nos dois estados, simultaneamente.
Ainda assim, permanecia um asfalto reluzente e sem defeitos na Paraíba, enquanto aqui o desgaste aparentava ser maior e mais intenso. Debrucei-me sobre o problema para descobrir a razão da diferença.
O nó górdio surgiu na minha frente, claro como a luz do dia. Embora o nosso estado possuísse características similares as do nosso vizinho, a Paraíba dispunha de um orçamento federal para manutenção e recuperação de rodovias, bem maior do que o destinado ao Rio Grande do Norte, todos os anos, durante décadas.
Manter uma boa infraestrutura rodoviária na Paraíba era, decerto, um ponto de honra para os seus parlamentares. Situação e oposição sempre se mantiveram unidas, caso a tratativa fosse buscar recursos para as estradas do estado. Creio que o mesmo comportamento ainda vigora por lá. Enquanto aqui…
No âmbito da aeronáutica a situação ganhava contornos diferentes. Natal dispunha de aeroporto pequeno, bem situado e acesso fácil ao centro da cidade; ao passo que João Pessoa, capital da Paraíba, era servida por um aeroporto nada funcional, mal localizado e operando reduzido número de voos regulares. Daí a preferência de paraibanos pelos terminais daqui e de Recife para suas viagens.
O encantamento do turista chegado a Natal, por via aérea, se iniciava ao deixar o Augusto Severo. Dava logo de cara com uma rodovia com seis faixas de tráfego, canteiro central florido, ausência de favelas no percurso, boa iluminação e acesso fácil aos principais bairros da capital. Um cartão-postal perfeito para o visitante.
Quantas e quantas vezes escutei comentários elogiosos, deste tipo: “Vocês possuem a mais bela entrada rodoviária de todo o Brasil”. Quem afirmava isso, também não falseava a realidade.
Eis que, em 2014, entrou em operação o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, o primeiro aeroporto privatizado do país, avaliado dois anos depois pela Secretaria de Aviação Civil como o melhor do país. Tudo levava a crer estarmos presenciando o nascimento do Eldorado dos aeroportos brasileiros.
Cinco anos depois de inaugurado, o entusiasmo inicial parece ter desaparecido. O ansiado hub da Latam ficou em Fortaleza; a distância entre o aeroporto novo e o centro da cidade, além da falta de segurança no percurso, são complicadores para seus usuários; e, por último, o alto custo das passagens desviando, vergonhosamente, nossos viajantes para embarques em terminais de estados vizinhos.
Treze anos atrás, operavam-se aqui, 23 voos charters semanais trazendo turistas de vários países da Europa sem dispor da estrutura aeroportuária de agora. Hoje, quantos são?… Natal caiu do 2º para o 5º lugar no ranking das operadoras de turismo, como o destino mais procurado do Nordeste. Não estará na hora de localizar e desatar o nó górdio que trava o crescimento do turismo no estado?
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor
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Muito bom e oportuno seu artigo sobre o atual aeroporto de São Gonçalo do Amarante.
Foi com grande tristeza e saudades do aeroporto Augusto Severo que cheguei à Natal em 2015 pelo novo aeroporto. A distância do centro e o percurso nada animador me deixaram temerosa.
A tristeza agora aumenta ao saber da queda do turismo nessa cidade que tanto me encanta.
Nada alentadora essa sua constatação. Mudança que vem piorar algo que estava muito bom, faz lembrar um dito popular da esfera futebolística, pelo qual "em time que está ganhando, não se deve mexer".
A lindíssima Natal merece ser visitada por todas as pessoas que apreciam as belezas naturais. Aliás, não só Natal, mas boa parte do Estado.