De acordo com o chefe da divisão de Regulação Hospitalar do Estado do Rio Grande do Sul, Rogério Caruso, a saída temporária do Estado da rede nacional de transplantes poderá prejudicar alguns dos pacientes que aguardam pelo procedimento.
“Infelizmente, isso coloca em risco a vida de algumas pessoas. Há pessoas que aguardam na fila (dos transplantes), mas não têm risco imediato (de morte). Outros (pacientes) podem correr risco imediato.”, Rogério Caruso, chefe da divisão de Regulação Hospitalar do estado.
O médico explicou à reportagem que a saída temporária do Rio Grande do Sul da rede nacional de transplantes foi uma decisão do governo local em função do fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho.
“A gente informou que enquanto o aeroporto não estivesse funcionando, não teríamos como receber (órgãos). A não ser que haja oferta de um voo da Força Aérea Brasileira (FAB)”, disse Caruso à BBC News Brasil.
“A partir do momento em que a gente consiga, vamos conseguir retomar”, afirmou.
Normalmente, o transporte interestadual de órgãos e tecidos é feito em voos comerciais por meio de um convênio firmado entre o governo federal e as companhias aéreas.
Quando não há voos comerciais que atendam à especificidade do transplante, é possível que o órgão seja transportado em voos específicos da FAB.
Vocação de ‘receptor’ em xeque
➡️ Dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde na internet apontam que o Rio Grande do Sul é o quinto Estado que mais realizou transplantes em 2023 em todo o Brasil: foram 733 procedimentos.
O Estado que lidera o ranking é São Paulo, com 2.955.
Rogério Caruso explicou que a saída temporária do Rio Grande do Sul dessa rede de doação de órgãos oriundos de outros Estados deverá afetar os pacientes gaúchos, especialmente porque o Estado seria um dos maiores receptores de órgãos do Brasil.
“O Rio Grande do Sul recebe muitas ofertas de outros Estados porque a gente tem equipes que fazem quase todos os tipos de transplantes possíveis. Se surge um órgão em algum Estado do Nordeste, mas não há uma equipe lá que possa fazer o procedimento, esse órgão é ofertado a quem tem condições de fazê-lo. Por isso, recebemos muitos”, explicou Caruso.
Nem Caruso e nem a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, por meio de sua assessoria de imprensa, souberam informar quantos transplantes deixaram de ser feitos durante o período das inundações.
O agravamento das enchentes afetou, inicialmente, tanto os transplantes que seriam feitos com órgãos de fora do Estado como aqueles que poderiam ser realizados com órgãos captados dentro do Rio Grande do Sul.
As inundações comprometeram o funcionamento de hospitais em todo o Estado e levaram ao bloqueio de diversas rodovias em todo o Estado.
Por conta disso, o governo determinou a suspensão temporária das captações de órgãos disponíveis para transplante dentro do Estado.
Uma nota publicada pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul apontou que, desde o início das inundações, foram realizados 30 transplantes de córnea, mas todos eles a partir de órgãos que já estavam disponíveis nos estoques do Estado.
Na quarta-feira (15/05), o governo estadual autorizou a retomada da captação de órgãos para transplante dentro do Estado.
“Com o auxílio da rede aeroviária nacional, foram disponibilizados helicópteros que favorecem o transporte não só de órgãos e tecidos, mas também, de pacientes que necessitam acesso a outros locais do Estado”, disse a nota enviada pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul à BBC News Brasil.
Caruso disse que, no momento, as autoridades locais não avaliam a possibilidade de transferir pacientes que precisam de transplante para outros locais onde eles possam receber um órgão caso haja a oferta.
Como funciona o sistema de transplantes no Brasil
A regulação dos órgãos e tecidos disponíveis para transplante no Brasil é feita pelo Sistema Nacional de Transplantes, do qual a Central Nacional de Transplantes faz parte.
Por meio de um sistema computadorizado, o sistema faz o cruzamento entre as informações de órgãos e tecidos disponíveis com as listas estaduais de pessoas que precisam de algum tipo de transplante.
Em geral, esses processos levam poucas horas. Nos casos de maior urgência, são usados helicópteros ou aviões.
Nesses casos, há colaboração da Força Aérea ou de companhias aéreas privadas que possuem convênio com o governo para transporte gratuito de equipes e órgãos em voos comerciais.
Um coração pode demorar no máximo quatro horas para ser transplantado após a retirada do corpo do doador. Em contrapartida, um pulmão ou um fígado podem esperar até seis horas.
Dados atualizados pelo Ministério da Saúde apontam que há 43 mil pessoas na fila de transplantes em todo o Brasil.