Fernando Jorge
Pois é. Este é um espaço para refletirmos.
Vejo com muita preocupação a situação dos artistas do nosso estado, em particular os cantores. Aqueles que têm a preocupação de levar ao público a boa música e a cultura.
Como vivem? De que vivem?
Respondo sem medo de errar: Dependem na sua maioria de esparsos e parcos projetos que surgem na esteira de iniciativas de nossos ousados (felizmente) produtores musicais, e principalmente (e infelizmente), dos editais das festividades anuais (Carnaval, São João, Natal e etc). E são sobre estes editais que quero me debruçar um pouco mais.
É claro que a existência dos editais torna-se importante para dar legitimidade às contratações, e até para poder qualificar as escolhas. Em contrapartida exige dos artistas um sem número de documentos, e que na sua maioria tem dificuldades para cumprir as exigências em função de que não é a “praia” desses artistas, a chamada burocracia (ou seria “burrocracia”?)
Pois bem. Passadas as fases de documentos e etc. vêm à contratação e a execução dos serviços por parte dos artistas, que cumprem seus papeis com profissionalismo e, sobretudo, com alegria naquilo que faz.
Aí vem depois a pior parte de todas: O pagamento.
É aí onde residem todos os maiores problemas. O artista tem todo um custo com os seus músicos, despesas com a sua logística, com a sua própria produção (para poder apresentar-se com brilho) e na maioria das vezes não possuem capital financeiro que possa bancar tudo isso com antecedência. Assim, para onde ele vai? Respondo: Para o empréstimo, para o cheque especial e até para os agiotas de plantão, tornando tudo isto uma imensa bola de neve.
E quando é que o artista recebe o pagamento pelos seus shows às entidades do governo (municípios e estados)?: Com 30, 60, ou 90 dias, quando recebe.
É lamentável, como artistas de nosso estado que eleva a nossa alma com seus talentos podem ser tão desprestigiados.
E com os artistas de outros estados que são contratados, como são tratados?
Em primeiro lugar, na sua maioria, são contratados pela INEXIGIBILIDADE por tratar-se de “UM GRANDE ARTISTA NACIONAL” e nesse caso utiliza-se do artifício da lei da NOTÓRIA ESPECIALIDADE, que permite abrir brechas nesse sentido. Portanto, a escolha é direta desse ARTISTA NACIONAL.
E como são os cachês desses ARTISTAS NACIONAIS?
São astronômicos, em relação ao artista local. Não que o ARTISTA NACIONAL não mereça receber um valor compatível com a sua projeção, mas a desproporção de valores é algo gritante e vergonhoso.
E como esses ARTISTAS NACIONAIS recebem os seus cachês?
Pagamento adiantado (do contrário ele nem viaja).
É assim amigos e amigas. Estes são os critérios.
Para que todos tenham uma ideia do agravamento do problema, tomei conhecimento de que foi vetada pelo Prefeito uma lei que definia um teto mínimo de valor para o artista local em relação ao ARTISTA NACIONAL. Fato lamentável.
Então, quando virmos um artista do RN denunciando, clamando, através de suas redes sociais, por favor, entenda-os, pois aquele com certeza é um grito para que toda a sociedade tome conhecimento do desprezo em que os artistas do RN são submetidos.
Eu apoio o artista do RN, e você?
– * escrevi a ‘artista local’ em minúsculo, de forma proposital, a fim de criticar a dimensão menor que é dada aos nossos artistas.
“E viva o ARTISTA DO RN!”
Fernando Jorge – Contabilista e apreciador da música do RN.
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