OS CEM DE BOBBY –
Bobby Fields é o apelido de Roberto Campos (1917-2001), usado por aqueles que não lhe tinham simpatia. A “tradução” remetia ao seu encantamento pela praticidade e conquistas norte-americanas. Foi sempre múltiplo e singular, polêmico. Professor, conferencista, escritor, diplomata, deputado e senador da República.
De sua ação perdura muita coisa na economia do nosso País. Foi o criador do FGTS, do BNDS, do Banco Central. Incentivou a criação da Petrobras, depois, arrependeu-se e passou a chamá-la de Petrossauro. Talvez imaginasse que um “meteoro” (no caso, Lava Jato) praticamente extinguiria esse “sauro”. Roberto Campos não gostava das esquerdas (“a mais sangrenta das ideologias”, disse), da burocracia, do gigantismo estatal, do PT. Afirmava seus conceitos como: “Uma vez criada a entidade burocrática, ela, como a matéria de Lavoisier, jamais se destrói, apenas se transforma”. Ainda: “O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito”. E ainda, “O PT é um partido de trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam”.
Como ministro do Planejamento, conseguiu reduzir a dívida pública brasileira a 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB). A dívida hoje representa 79,9% do PIB. A insuportável carga de tributos, impostas ao povo, serve, principalmente, para pagar juros aos bancos credores.
Depois de assistir à sua conferência no SESC, fui a ele apresentado pelo primo e empresário Fernando Cunha Lima, que o acompanhava. A seguir, almoço na casa do governador Cortez Pereira. Fernando vislumbrava a criação de caprinos para exportação de carne e queijo, enquanto Roberto preferiu literatura. Falou sobre a admiração por “Meu Pé de Laranja Lima” e “Barro Branco” de autoria do potiguar, por adoção, José Mauro Vasconcelos.
Foi amigo pessoal de Aluízio Alves. Quando embaixador em Washington, levou-o a uma audiência com John Kennedy. O Presidente dispensou interprete oficial e Roberto fez a tradução, inclusive, do convite do governador para vir a Natal. Convite aceito, e que não aconteceu pelo assassinato do Presidente. Esteve aqui o seu irmão Roberto, também apelidado Bob. Virou busto de bronze no Grande Ponto. Valério e Cláudio Emereciano contaram-me esses fatos. E Paulo Macedo disse-me ter sido aluno do professor mato-grossense, por dois anos, na Escola Superior de Guerra.
Comemorando o centenário, Paulo Roberto de Almeida organizou um livrão de sucesso que tem o título de “O Homem que Pensou o Brasil”. Foi publicado também outro, organizado pelo gênio Ives Gandra sobre o “Lanterna de Polpa”.
Roberto tinha visão de estadista. Em 1999, ele reclamava da reforma política como urgentíssima. E advertiu para o risco de ser criado no Brasil o caos populista.
A sua eleição para a Academia Brasileira de Letras provocou duras críticas e aplausos incontáveis. Vestindo o fardão, ele baseou seu discurso de posse em São Paulo, citando, em latim, que “A glória do mundo é transitória”. Referiu-se também a autores prediletos: Thomas Morus, Álvaro Moreyra, Vinicius de Moraes, Martin Luther King, e até o irreverente roqueiro baiano Raul Seixas. Ao final do discurso surpreende com o nome de escritor, dizendo que, talvez, ainda não citado na Academia dos Imortais. A razão: José Mauro de Vasconcelos levara aos quatro cantos do mundo mostrando as diferentes culturas e a alma intensa e comovente do povo brasileiro. Seria uma admiração sem leitura feita.
Notícias e comentários azedos sempre houve contra o “bruxo” de Mato Grosso. Um deles, quando embaixador em Londres, levou uma moça linda de 23 anos e muito se amaram. Já em São Paulo, em apart-hotel, declarou o fim da relação. E a amante, que era Tupinambá de nome e de atrocidade, esfaqueou-o no tórax. Um cronista famoso, agora, diz que ela era paga pela Odebrecht e desde aquele tempo deveria ter começado a Lava Jato.
O que penso é que depois de cem anos, Bobby Fields ainda mais merece ser lembrado e discutido.