OS GARGALOS DA SAÚDE NO PAÍS –

Em toda pesquisa feita no país, sobre os principais problemas que afligem nossa população, à saúde pública desponta como uma das principais preocupações, ao lado da educação, emprego e da segurança pública. Filas, longo tempo de espera por atendimento, sobretudo por cirurgias eletivas, dificuldade de acesso a médicos especialistas e emergências superlotadas, são percalços do dia a dia para quem depende do Sistema Único de Saúde(SUS) ou dos serviços estaduais e municipais de saúde.

Para os especialistas em saúde pública, a saúde no Brasil vive um paradoxo. Mesmo sendo o SUS considerado o maior sistema de saúde gratuito do mundo, atendendo a 75% de nossa população, “os serviços ofertados são prejudicados por um quadro de subfinanciamento, ao mesmo tempo em que o sistema desperdiça recursos, pela sua ineficiência, o que poderá aumentar no futuro em função de aumento nos gastos”.

Um outro agravante diz respeito à recente crise econômica que afetou o país, fazendo com que mais de 3 milhões de pessoas perdessem à capacidade de pagar seus planos de saúde, muitos dos quais têm recorrido ao SUS. Ademais, dados do Ministério da Saúde sinalizam para o crescimento no índice de mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas, na população de 30 a 60 anos, com mortes prematuras  que poderiam ser evitadas. Há, também, registros preocupantes de retrocesso, com aumento nas taxas de mortalidade materna e infantil, e queda nos índices de vacinação, fazendo com que campanhas recorrentes não atinjam os índices de cobertura preconizados.

Além dos agravantes já referidos, a saúde pública no Brasil também apresenta outros gargalos, na medida em que dispõe de uma atenção primária pouco resolutiva, visto que a cobertura do Programa Saúde da Família ainda é baixa e com muitas equipes trabalhando em situações precárias; com excessos de médicos concentrados nos grandes centros urbanos, em detrimentos das pequenas cidades distantes das capitais; com 80% dos hospitais do país sendo de pequeno porte e com baixa taxa de ocupação de leitos, o que os torna pouco eficientes; e com gestores sem formação técnica, cuja maioria é escolhida por critérios políticos, diferentemente do que acontece em outros países.

Se, atualmente, o sistema de saúde já apresenta dificuldades operacionais, certamente nos próximos anos os desafios serão maiores, sobretudo em função do acelerado processo de envelhecimento de nossa população, com a prevalência de doenças crônicas que encarecem às despesas com saúde. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), indicam que a partir de 2030, o país terá uma população de idosos maior do que à infantil. Atualmente, os idosos somam 24,9 milhões de indivíduos e representam 14,3% da população. Em 2030, serão 41,5 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos, o equivalente a 18% do total da população, contra 39,2 milhões de indivíduos que terão de 0 a 14 anos, ou 17,6% da população total.

A partir desse cenário preocupante, instituições e especialistas advogam à realização de propostas para o incremento do setor. Estudos do Banco Mundial (Bird) propõem melhoria nas áreas de ineficiência do SUS, evitando desperdícios e equilibrando às contas do setor. Para o Bird, na atenção primária os desperdícios são estimados em R$ 9,3 bilhões e na média e alta complexidade em R$ 12,7 bilhões. Outra iniciativa importante seria à expansão do Programa Saúde da Família, ampliando a cobertura atual de 65% para 100% da população.

Também propõe-se à integração de dados em saúde, com à criação de um cadastro único por pessoa, a ser utilizado em toda rede de saúde, bem como à criação de critérios técnicos e de experiência no SUS para o exercício de cargos de gestão na saúde. Se a reorganização do sistema de saúde já era uma necessidade, agora se torna urgência a ser encampada pelos três níveis de governo.

 

Antoir Mendes SantosEconomista

 

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