OS GENOCIDAS III – MAO

Os comunistas chegaram ao poder na China, conduzidos por Mao Tse-tung, o artífice e primeiro dirigente da República Popular da China, nascida da revolução armada promovida na segunda metade do século XX. Em 1911, quando teve início a revolução contra a dinastia Manchu. Mao alistou-se no exército revolucionário onde lutou como soldado, até o nascimento da República da China, no ano seguinte. Em Pequim, quando cursava a universidade, trabalhou na biblioteca da instituição, onde conheceu Li Ta-chao e Chen Tu-hsiu e, juntos, fundaram o Partido Comunista Chinês, em 1921.

Quando os comunistas se aliaram com o Partido Nacionalista, o Kuomintang, para combater os chefes militares que dividiam o país entre si, nas regiões norte e centro do país, Mao desempenhou intensa atividade política no movimento. Entretanto, em 1927, por ocasião da vitória, Chiang Kai-shek (o então dirigente do Kuomintang) quase aniquilou os comunistas. Então Mao, comandando algumas centenas de camponeses, internou-se nas montanhas de Jinggang e iniciou uma luta de guerrilha que se prolongaria por 22 anos. Em outubro de 1934, acossados pelas forças de Chiang Kai-shek, os revolucionários, liderados por Mao, retiraram-se para o noroeste do país, iniciando a “grande marcha”, ocasião em que se firmou como o líder do Partido Comunista chinês. Em 1949, à frente do seu exército, foi proclamado presidente da nova República Popular da China.

Embora nominalmente aliados, as divergências sino-soviéticas evidenciaram a necessidade de os chineses alcançarem a autossuficiência de produtos até então importados. Então foi criado o plano do “grande salto para frente” (1957-1958). Os camponeses foram agrupados em grandes “comunas agrícolas” e até nas aldeias foram construídos pequenos fornos siderúrgicos, para aproveitar restos de metal. O crescimento industrial e agrícola foi insignificante, mas a consequência foi trágica: desorganização da economia e morte pela fome de 20 a 40 milhões de chineses, até 1962. Estima-se que foi “a pior fome da história”, acompanhada de ondas de canibalismo e de campanhas de terror contra camponeses acusados de esconder comida. O fracasso do “grande salto” obrigou o “grande timoneiro” a fazer autocrítica de seus erros no comando da economia. Mao foi substituído por Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, nos assuntos internos, mas se manteve à frente do exército e da política externa.

O agravamento da situação fez com que surgisse a mais polêmica das iniciativas de Mao Tse-tung: a chamada “revolução cultural”, destinada a abolir a distância entre o povo e os intelectuais, e a erradicar a burocracia e o revisionismo dos quadros do partido. Os executores da revolução cultural foram os sectários jovens da “guarda vermelha”, que cometeram excessos absurdos, tendo por base as ideias do famoso Livro Vermelho das citações de Mao, uma forma de culto à sua pessoa, organizado por Lin Piao, seu Ministro da Defesa, sendo que a autoria controversa é atribuída a Hu Qiaomu, ajudante de ordem de Mao, por 25 anos. Na realidade, o movimento foi comandado pela Camarilha dos Quatro, todos julgados e condenados em 1980 por crimes contra o país.

Durante todo esse período, os homens e mulheres chineses eram obrigados a usar a chamada “túnica Mao”, único modelo de vestuário, tido como símbolo de unidade proletária.

Calcula-se que as políticas econômicas e os expurgos políticos provocaram a morte de um total de 50 a 70 milhões de chineses. O encerramento da “revolução cultural” foi decretado no IX Congresso do Partido Comunista Chinês, em 1969. Mao continuou governando o país até a morte, a partir de quando suas ideias foram abandonadas e adotadas políticas cada vez mais pragmáticas.

Atualmente a China é um país sui generis. Política e economicamente se diz comunista, mas na verdade é uma ditadura partidária, comandada por uma oligarquia de dirigentes burocráticos, enquanto sua economia é formada por empresas privadas, estatais e paraestatais, todas seguindo – mais ou menos – as leis do mercado; interno e externo. Hoje é a segunda economia do mundo e a principal parceira comercial do Brasil.

Publicado originalmente em Tribuna do Norte. Natal, 24 nov. 2021

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Jornalista e historiador, do IHGRN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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