OS IRMÃOS PARRA –

Vamos limitar a nossa reflexão, apenas, a dois dentre os mais famosos dos filhos de um músico e professor primário e de uma modista, ambos chilenos: Nicanor e Violeta Parra.

A mãe deles cultivava violetas que curavam tosse, tristeza e que sugeriram o nome da filha. O pai faleceu quando Violeta tinha dez anos. Aos quinze anos, Violeta foi morar com o irmão, já famoso, em Santiago.

A poesia chilena eleva-se à altura dos Andes. Parece que ser poeta faz parte da natureza. Um povo que se encantava com a poética de Vicente Huidobro, Pablo Neruda e Gabriela Mistral (os dois últimos Prêmios Nobel) e mais ilimitados poetas eruditos. A maioria deles com fundamento melódico e linguagem culta.

Violeta dedicou-se a buscar raízes do seu povo, costumes, tradições, lendas e mitos, lírica popular. Foi compositora, cantora, pintora, desenhista, ceramista, tapeceira. As suas múltiplas atividades artísticas podem lembrar o artista potiguar Dorian Gray.

Deu graças a vida por ter lhe dado tanto, o riso e o pranto. Pode-se dizer que ela manifestou a voz ao Chile. A canção “Gracias a la vida” foi universalizada a partir da interpretação da argentina Mercedes Sosa, da brasileira Elis Regina. “Voltar aos dezessete” é canção imprescindível.

Morando dois anos na França, teve o seu talento reconhecido nos países vizinhos e na antiga União Soviética. Foi o primeiro artista latino-americano a fazer exposição individual no Museu do Louvre. No topo da sua glória e cercada pelo carinho familiar, aos quarenta e nove anos suicidou-se.

Nicanor Parra, cientista, cosmógrafo, humanista, foi o criador da antipoesia. Recebi um presente inestimável, o livro “Poemas y antipoema” quando eu exercia as funções de Consul Honorário do Chile em Natal.

Escreveu o seu epitáfio autodescritivo: “Filho mais velho de um professor primário e de uma modista de bastidores, fraco de nascença, devoto da boa mesa, um rosto quadrado, em que os olhos apenas se abrem e nariz de um boxeador, boca de um ídolo asteca, banhado de luz entre ironia e perfídia, mistura de vinho e azeite, um embutido de anjo e fera”.

Não foi tão feliz quando fez o epitáfio da Prêmio Nobel Grabriela Mistral, em que se pode notar um impulso de inveja.

Nicanor Parra não se preocupava com a ausência melódica, usava linguagem coloquial, gíria, frases feitas com uma perfeita fidelidade às suas origens.

Desdenhava de saberes eruditos. Ironizava ciências exatas e também a estatística: “Temos dois pães. Você come dois. Eu não como nenhum. Consumo médio: um pão por pessoa”.

Certamente, ele alcançou tudo idealizado, dessa forma cumpriu a lição de Nietzsche: “quem alcança seu ideal, irá além”.

Nos seus cento e três anos bem vividos deixou o legado de instigante poesia. Sempre viva!

 

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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