Nelson Freire
Eu já posso dizer hoje que tenho quatro netos. Os dois primeiros são tão parecidos que dá para passar por gêmeos. É que são filhos de duas mães e um único pai. Mas, antes que o leitor comece a questionar e pôr em dúvida a educação que dei aos meus filhos, vale a observação: os meus primeiros netos são lindos cãezinhos da raça maltês, dóceis e carinhosos. Eles se chamam Theo e Tobby, filhos de um pai campeão e de duas cadelinhas formosas. Eles chegaram na minha casa, um com cinco dias de vida e o outro três meses depois.
Quem inventou essa história foram as minhas duas filhas mais novas. Cada uma passou a ser mãe de um deles. E assim vivemos juntos e felizes por uns cinco anos. Até que a filha do meio casou e a mais nova começou a namorar firme. A que casou só tinha olhos para o marido. E para romper com os antigos laços, resolveu adotar um gato. Segundo ela, seria o segundo da sua vida.(rsss). E assim aconteceu. Saiu de casa com lenço e documento, mas sem o cãozinho. E ainda insiste que Miguel, o nome do referido gato, seja também meu neto, o que discordei.
A mais nova, deixou de ir a hospital veterinário, de dar remédios aos cães, de passear com eles, o que os deixou imensamente entediados. O que fazer? Os pobrezinhos nos lançaram um SOS, que funcionou como verdadeiro ultimatum. “Ou vocês, vovô e vovó, nos adotam em caráter definitivo, ou iremos sucumbir ao tédio”. Não deu outra. Como acontece com os seres humanos, nós, os avós, passamos a ser os verdadeiros pais dos belos e irrequietos animaizinhos de pelo branco.
Depois é que vieram os dois primeiros netos genuinamente humanos. Igualmente lindos, só que com um único porém: eles moram a centenas de milhas daqui, como na música de Djavan. Em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Um deles, TJ, é meio sério, prevalecendo o sangue irlandês do pai. O outro, Noha, o mais novo, tem um sorriso farto e fácil que lembra muito a sua mãe e o avô brasileiro.
Miguel o gato, eu pouco vejo. Mas para ser um gato até que é bonito. As fotos que são postadas no face comprovam isso. O que mostra pelo menos o bom gosto da minha filha. Mas não o adotei como avô. Até porque se fosse fazer isso com toda a bicharada familiar, teria que ser igual com os outros filhos. E a emenda sairia pior que o soneto. Afinal, as duas filhas mais velhas tem uma cadelinha, cada. E o filho simplesmente resolver criar cinco. Ia ser um Deus nos acuda.
Considerando todas essas coisas, a vontade de ter um quinto neto, este o mais humano possível, cresceu e começou a tomar corpo. E ela passou a ser a cada dia, mais presente. Pode ser até na terra de Tio Sam, que continuará a ser super bem vindo. Mesmo que, para vê-lo como aos outros, tenha que continuar viajando muitos kilômetros. Mas não acharia nada mal que pudesse ter outro neto, esse morando mais pertinho, quem sabe aqui mesmo em Natal.
Por isso eu e a minha mulher começamos recentemente uma luta insana para convencer a filha mais velha a se preparar para nos dar esse presente. A princípio arredia e reticente, ela parece que já está um pouco mais receptiva à ideia. Espero que não seja apenas uma tática para arrefecer nosso ânimo. Mas, a esperança é a última que morre. E confio muito na velha máxima: água mole em pedra dura….
Enfim, estou torcendo para chegar o dia em que eu possa escrever outro texto parecido com esse, mudando claro, o título. Mostrando que houve aumento na quantidade de netos. Afinal, desde quando eu aprendi aritmética, sempre gostei da tabuada de somar.
Nelson Freire – Economista, Jornalista e Bacharel em Direito
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