OS “RESPINGOS” DA CRISE ARGENTINA NO BRASIL –
Em um momento de relações turbulentas entre os dois países, políticas de controle inflacionário adotadas pelo governo do presidente argentino Milei têm impactado negativamente o Brasil.
Exportações ao terceiro maior parceiro comercial do Brasil despencaram em meio a encolhimento do PIB argentino e a falta de moeda estrangeira.
Verifica-se uma queda até maio deste ano de mais de 30% nas exportações brasileiras à Argentina, tradicionalmente terceiro maior comprador do Brasil – posto que o país hoje ameaça perder para a Holanda.
Este é um tema de preocupação em Brasília.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou sua previsão de crescimento para a Argentina, estimando uma contração de 3,5% em 2024, e alertou para o risco de que a recessão se prolongue. Em abril, a expectativa era de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,75%.
O choque das ações do atual governante visando conter o processo inflacionário teve um forte impacto na demanda local. A principal preocupação vem deixando de ser a inflação e passando a ser o desemprego.
A queda na atividade do país foi muito abrupta nos últimos meses e o cenário de menor crescimento pode durar até mesmo anos.
Há importantes divergências sobre as perspectivas para o país nos próximos trimestres: alguns analistas projetam uma retomada da economia em “V”, com forte avanço após o tombo atual; por outro lado, setores menos otimistas sugerem um gráfico em “L”, com persistência do nível recessivo após a queda atual.
Independente da projeção, o mau desempenho da economia argentina é sentido no Brasil.
Os números afetam especialmente o setor automotivo. Pela grande ligação com o Brasil, seja em peças utilizadas na fabricação local quanto na compra de veículos prontos, é a principal preocupação dos exportadores brasileiros com o cenário no país.
Historicamente, cerca de 40% do comércio bilateral entre Brasil e Argentina está ligado aos automóveis, especialmente pelas fábricas dos dois lados da fronteira. Dados de comércio exterior do governo brasileiro mostram que, até maio deste ano, a queda nos envios de veículos automóveis de passageiros foi de 18% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já as partes e acessórios de automotivos tiveram redução de 23%.
As exportações brasileiras têm enfrentado dificuldades diante do desaquecimento das duas economias vizinhas.
Argentina é o principal importador brasileiro de produtos manufaturados no geral, o que impacta também outras indústrias, com destaque para as ligadas ao agronegócio
Até o momento, ainda existe dificuldade para a execução de pagamentos que necessitem de moeda estrangeira, mas há expectativa de que o tema seja amenizado nos próximos meses com uma maior normalidade na economia local.
Diante da escassez de divisas, o governo de Fernández havia criado uma série de licenças que atrapalharam as exportações brasileiras ao longo de 2023, mas que, segundo Barral, têm sido extintas nos últimos meses.
A esperança é que os “respingos” em nossa economia não se transforem em tempestade.
Ney Lopes – jornalista, advogado e ex-deputado federal
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