OS SONHOS SONHADOS… –

Não faz muito tempo, e os limites de meu universo eram restritos a poucos ambientes. Nos arredores da Rua Comendador Palmeira, no bairro do Farol, onde morava, pratiquei o jogo da amizade com inesquecíveis figuras, como Zezinho e Roberto, Tuca Toledo, Zé Franklin, Márcio, Paulinho, Sérgio e Guilherme e outras também adoráveis criaturas. No Colégio Marista, com os Irmãos Getino, Raimundo, Marcelo e João Evangelista aprendi, a decifrar as belezas armazenadas nos livros. Em Caicó, no Rio Grande do Norte, solidifiquei o espírito de família, ao lado de minhas bisavós, avós, tios, primos e muitos amigos. Em meu lar, aqui mesmo em Maceió, convivendo com meus pais, acompanhei a permanente construção de um estável templo de amor, que durou mais de sessenta anos de forma bela, imponente e adorável.

Eram tempos dos programas de rádio e jogos de bola de gude, no leito da rua com chão de terra. De passeios de bicicleta e do sonho, distante, de que um dia o homem pisaria na lua, enquanto aqui na terra o CSA já era praticamente imbatível em Alagoas.

Recordo-me bem que, lendo revistas e jornais da época, ao ver as reportagens que enfocavam as grandes cidades e as importantes profissões, eu desejava, um dia, ter a oportunidade de conviver com aquelas realidades. Sempre trouxe, em meu coração, a certeza de que o sonho e a esperança são almas gêmeas, que conspiram a nosso favor se soubermos equacionar a melhor forma para viver, sempre fazendo por onde estes elementos estejam a nosso lado.

À medida em que as décadas se sucederam, o comportamento do homem mudou, de tal forma, que as verdades de outrora, na realidade, nem parecem ser as mesmas. Doenças antigas, deixaram de existir, enquanto outras surgiram imponentes. As Praças, onde adorava brincar nos finais de semana, perderam seus encantos, na medida em que, algumas se transformaram em retiro de flagelados, outras passaram a abrigar feiras, sem nenhuma organização ou limpeza. Até o Leão, que emprestou o nome a uma delas lá em Jaraguá, agora é banguelo enquanto o mijãozinho da Sinimbu, passou a urinar pelo umbigo.

Uma das poucas coisas que permanecem estáveis é o comportamento dos poderosos. Antigamente, eram chamados de coronéis. Hoje, atendem por terminologias diversas. Contudo, as práticas continuam as mesmas do tempo de Calígula, lá na Roma antiga.

A violência, que enclausura as pessoas em seus próprios redutos, os programas de televisão que vulgarizam a ação dos homens, na medida em que, apesar de esclarecer e desnudar os fatos, também inserem nas almas dos espectadores a frieza do cotidiano, banalizam atos e fatos, que, outrora, só se sabia notícias, por ouvir falar.

Ao longo de minha existência, sonhei muitos sonhos. Alguns, partiram nas asas do vento enquanto outros retornaram, a reboque da esperança. Sinto saudades das pessoas que fui conhecendo, e, de muitas delas, pelos desígnios da vida, aos poucos me afastando. Mas, sou feliz, pois, sou consciente de que quem vence sem obstáculos, triunfa sem glória e permanece a esperar por um legado, não escreve sua própria história.

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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