OS URUBUS –

Viajando de carro pelas estradas do interior do RN, é impressionante o número de animais que vemos mortos por atropelamento. É comum se ver um animal morto, seja um cavalo, um jumento, um carneiro, fora um grande número de cachorros, gatos e galináceos, que, inocentemente, se arriscam a atravessar as estradas. São atropelados constantemente, involuntariamente, ou por brincadeira de motoristas irresponsáveis, quando se trata de galinhas, patos, guinés ou perus, que estão soltos nas estradas. Ainda há motoristas sem compaixão, que param para transportar para casa os galináceos atropelados, para as mulheres prepará-los para almoço ou jantar.

O único animal que é raríssimo se encontrar morto nas estradas é o urubu, ave elegante que tem a incumbência de limpar a natureza, alimentando-se da carniça de outros animais. Mas, mesmo assim, uma vez por outra, um urubu é encontrado morto na estrada. Ele “aterrissa”, à procura de carniça, quando fareja que há animal em decomposição por perto.

Naturalmente, urubu também adoece e morre. Ninguém escapa.

O urubu é um animal injustiçado. Nunca ouvi falar que houvesse uma “sociedade protetora dos urubus”. Certa vez, um conhecido meu se deparou com um urubu morto na estrada da zona rural e perguntou a causa da morte do urubu a algumas pessoas e ninguém soube dizer. Até que um menino disse que o urubu tinha morrido de uma pedrada. Achei estranho.

Não imaginava que urubus se deixassem apedrejar. Urubu, na minha opinião, só morria empanzinado com carniça. Pois a função deles na terra é limpar a carniça dos animais mortos.

Por ser um animal difícil de ser visto morto, quando morre um urubu, é um acontecimento, uma festa. A ave é velada por algumas pessoas curiosas. Dificilmente, gatos e cachorros se aproximam de um urubu morto. Mas, se morre um gato ou um cachorro na estrada, rapidamente, os urubus se aproximam, imponentes, querendo se inteirar da “causa mortis” e levando o “defunto” para lhes servir de regalo.

Ninguém lamenta a morte de um urubu, pois ele vive da carniça de outros animais. Não tem choro nem vela. E os outros animais não querem nem ver o urubu morto . Eles tem repulsa pelos urubus.

Um gato ou um cachorro, morto na estrada, atrai muitos urubus. Mas a morte de um urubu só atrai outros urubus. Eles são orgulhosos e discriminam os outros animais. Formam uma casta, ou melhor, uma corja.

O urubu quando morre é abandonado, porque nunca deu valor ao seu semelhante. O que acontece com os urubus, acontece com o homem. Tal vida, tal morte.

Quando um homem se aproxima de um urubu, ele sai andando de lado e devagar, como se o homem lhe despertasse nojo e desprezo. O urubu é arrogante, mas acha que o homem é que é, mesmo sendo um cidadão comum, cumpridor dos seus deveres. O urubu se acha superior a todos os homens, só porque sabe voar. O urubu voa e voa bonito e elegante. Enquanto isso, os humanos são prisioneiros do chão. Não tem asas para voar.

Quando o homem tentou voar e não conseguiu, após dezenas de tentativas fracassadas, tentou construir um aparelho à imagem e semelhança do urubu. Afinal de contas, o avião é um urubu, ainda em fase de aperfeiçoamento. O avião se aperfeiçoa cada vez mais, na meta necessária do urubu. Já não faz barulho, como o urubu. Chegará o dia em que não ocorrerá mais desastres de avião. Aí, será a glória. O urubu será superado.

Por enquanto, em relação ao espaço aéreo, o urubu é autossuficiente e determinado, conhecendo sua rota.

O urubu que estava morto na estrada, segundo me contaram, atraiu a curiosidade de algumas pessoas, até com direito a uma vela acesa. Outros urubus sobrevoaram o local, mas logo o transportaram para o solar onde viviam.

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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