OS VIDENTES DO AGOURO –
Tenho, como todos nós (confinados viventes),sofrido verdadeiros bombardeamentos de informações recheadas de pessimismos, de uma forte impregnação de negativismo, levando, cada vez mais, àqueles que estão confinados, ao medo e ao pânico.
Longe de mim querer subdimensionar a gravíssima pandemia.
Fico a imaginar com os meus botões, matutando, ativando os meus neurônios, tentado entender os cálculos apresentados pela Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP), em entrevista dada aos canais locais de TV. Afirmava, peremptoriamente, um elevadíssimo número de óbitos para o próximo mês de maio. Um cenário arrepiante e devastador. Eram óbitos que não acabavam mais. Comentou-se até que um Vereador ficou tão nervoso e estressado que iria apresentar uma proposição à mesa Legislativa Municipal para utilizar e transformar a grande área da Arena das Dunas em um cemitério, que passaria a ser chamado de Cemitério Branco; aproveitaria também para sepultar o Elefante já sem vida há muito tempo.
Os números apresentados diuturnamente nos mídias são assustadores: óbitos em grande número, pacientes entubados, pessoas em filas quilométricas procurando atendimento médico, falta de leito em UTIs, familiares chorando, tratores cavando valas e covas, caminhões frigoríficos aguardando nas portas dos hospitais os corpos; um drama inesquecível e aterrorizante.
Só que deveriam mostrar também e com destaque as coisas boas que acontecem simultaneamente: os hospitais de campanha vazios ou com pouquíssima ocupação, o grande aumento do número de altas, a redução de óbitos e as pessoas não positivadas em alguns estados: Santa Catarina, Paraná e outros, que possuem redes de saúde pública robusta e bem constituída; o menor número de mortes em comparação com países do primeiro mundo, como a Alemanha, Estados Unidos, Itália, Espanha e outros.
Diante de todo esse cenário de horror, estamos também presenciando uma tremenda e acirrada peleja de egos inflamados e inconsequentes. Muita gente querendo aparecer e se mostrar de “bonzinho” com olhares para um outro lado (não virótico) e, sim, político partidário.
Deixemos de lado o radicalismo, o extremismo ideológico. Não é hora de se discutir e nem medir forças dos Poderes Constituintes. A hora é de união, do bom entendimento, do respeito mútuo, para sairmos desse inesperado e devastador tsunami.
Que se afastem os videntes do agouro e os oportunistas de rapina.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]