Recentemente um barulho um tanto diferente dentro de casa começou chamar a atenção de alguns manauaras. Quem ouviu pensou se tratar de algum pássaro ou inseto, mas quem é mais atento já sacou que o ruído é causado por elas: as lagartixas, ou como os amazonenses comumente costumam chamar, as osgas.
Mas por que elas começaram a fazer barulho somente agora? O biólogo e doutor em ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Igor Kaefer, contou que o barulho é causado por uma espécie nova. Antigamente, a maioria das lagartixas presentes nas casas dos manauaras era a Hemidactylus mabouia, de origem africana. Mas a capital do Amazonas foi invadida por uma nova espécie: a Lepidodactylus lugubris, responsável pelo barulhinho diferente.
“Não é que a antiga que começou a ter essa habilidade, mas se trata de uma nova espécie. Como são duas espécies muito semelhantes, você não consegue ver a diferença entre elas. Até a lagartixa que já estava presente nas casas, ela faz um som baixinho. Só que essa espécie que colonizou Manaus recentemente faz um som muito mais alto. É um baralho que normalmente se escuta no fim da tarde, início da noite, e é uma comunicação entre elas”, explicou.
Kaefer estuda a lagartixa há mais de um ano e descobriu a mudança da espécie após uma postagem em uma rede social, quando a doutora em répteis Annelise D’Angiolella mostrou a diferença entre as duas lagartixas para ele. Segundo o pesquisador, o réptil tem origem asiática e recentemente vem se espalhando pelo mundo. No Brasil, há relatos da presença dele em Salvador e em Belém do Pará.
“A espécie está amplamente distribuída em todas as zonas de Manaus e era esperado pelo fato de que a capital tem um grande fluxo de cargas, tanto por navios quanto pela malha área. Essa espécie era mais comum em cidades portuárias, tanto Salvador quanto Belém, e agora Manaus, e é possível que ela vá aparecer em outros municípios do Amazonas e do Brasil. O potencial de invasão dela é alto”.
O biólogo também contou porque essa espécie se prolifera de forma mais rápida. Segundo ele, a fêmea não precisa do macho para procriar, conseguindo se reproduzir por clonagem. Ele também falou sobre a receita alimentar que o réptil procura na casa das pessoas.
“Ela tem uma reprodução por partenogênese, ou seja, não necessariamente não precisa do macho para se reproduzir, então ela tem uma capacidade reprodutiva bastante alta. Ela pode se reproduzir por clonagem. Ela se alimenta de insetos e uma espécie mais corajosa também. Ela precisa de açúcar, então, ela vai chegar perto de frutas, de copos de bebidas”.
Apesar do barulho, a nova lagartixa não traz nenhuma implicação para os seres humanos. Ela é tranquila e vai continuar se alimentando apenas dos insetos presentes nas residências. Mas, como a espécie antiga – e que também continua presente na casa das pessoas -, é importante ter cuidado com os gatos.
“A invasão dessas lagartixas, tanto a antiga, quanto essa espécie nova, não tem nenhum tipo de implicação para os seres humanos. Mas a saúde de felinos, dos nossos gatos, pode ser impactada pela planinosomose, que é uma doença que é transmitida por lagartixas e causada por um parasita que pode provocar doenças hepáticas”, finalizou.
Fonte: G1