OTTO MOHN: UM PIONEIRO DA HOMEOPATIA –

Os primórdios de Brasília guardam segredos vivenciais projetados oniricamente pelo maior educador do século XIX – Dom Giovanni Bosco – Uomo de Castelnuovo Don Bosco, piemontês, que na noite de Santa Rita de Cássia, anteviu:

“Quando vierem escavar as minas ocultas no meio destas montanhas, surgirá aqui a terra prometida, vertendo leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.”

A antevisão profética, entre os paralelos 15 e 20, seria Brasília, um novo marco!

Em 1945, durante Congresso Internacional Panamericano, foi fundada no Rio de Janeiro a Federação Homeopática Brasileira, com as seguintes finalidades:

“Criação de um curso pós-graduado para médicos, farmacêuticos e doutorandos, de medicina: organização de um hospital homeopático e ambulatório. Oficialização da homeopatia e sindicalização, divulgação da homeopatia em geral. Para tal fim apoiando e filiando todas as associações homeopáticas brasileiras.”

A entidade foi presidida pelo Coronel Doutor Duque Estrada (Henrique Dias Duque Estrada) – Diretor da Escola Militar –, tendo como Vice-Presidente o Dr. Cássio de Rezende, e compunha o rol de inúmeros fundadores o cardiologista Otto Mohn, integrante da Policlínica Central do Exército Brasileiro e instrutor da Escola de Saúde.

Estudioso de Christian Friedrich Samuel Hahnemann – Pai da Homeopatia –, o culto General Otto Mohn teve oportunidade de mostrar-nos os meandros, até hoje discutíveis pela Medicina de Galeno – Pai da Farmácia –, acerca do princípio latino similia similibus curantur, tratativas estas elencadas no tratamento que se dá a partir da diluição e dinamização de uma mesma substância.

Usuário desde a puberdade, enraizada pela cultura europeizada dos pampas, buscava no médico de Cristalina, amigo e ambos aficionados pela museologia, algumas mezinhas medicinais, tisanas que a natureza sempre prodigalizou desde os tempos primevos.

Os raizeiros e as benzedeiras sempre cativaram a minha alma ignota e curiosa.

Há países que oficializaram a homeopatia e outros não, daí a eterna questão.

Não serei eu a emitir juízos de valor e serventia no que concerne às plantas curativas, administradas na Província dos Goyazes desde os tempos das bandeiras e entradas, à busca das minas auríferas. Em 1960, quando aqui chegamos, nestes confins da hinterlândia brasileira, a Mãe-Natureza era uma farmácia viva a céu aberto. Para picada de cobra, quer fosse do gênero crotalus, botrops ou micrurus, a salvaguarda era utilizar: rodelas de tiú, uma euforbiácea classificada como adenoropium opiferum M; igualmente, a cascaveleira (crotolaria Jungeae); a alfavaca (ocimum gratissimum L.), rica em eugenol, que eliminava fungos e bactérias; o alho (allium sativum L.), com função antiviral, fungicida, antibacteriana, por conter os elementos alicina e ajoeno; a aroeira (myracrodrurom urundeuva Fr.), cuja casca era um poderoso antiinflamatório, pois continha chalconas diméricas; a camomila (chamomilla recutita Fr.), eficaz chá antiespasmódico, em decorrência do óleo chamazuleno e dos princípios ativos chamados bisabolol e camo-espiroeter; o capim- santo, espasmódico decorrente do óleo citral e mirceno; a anador (justicia pectoralis Leon), usada contra a asma e a bronquite; o mastruço, conhecido como erva-de-santa-maria, indicada contra tosse de garganta, bronquite, pois tem suco mucilaginoso e timol, demulcente e balsâmico; o pau-d´arco ou ipê roxo (tabebuia avvelanedeae Lor), adstringente, face à substância dita lapachol; a quebra-pedra, usada para os rins; a imbaúba, usada como anti-hipertensivo; a vassourinha (scoparia dulcis L.), que rebaixa os índices de açúcar, colesterol e triglicerídios; sangra d´água (croton urucurana Baillon) cujas folhas protegem feridas e estancam sangramentos.

Ainda hoje, o Museu da Estrada dos Currais, na goiana Fazenda Cachoeiras da Boa Vista, onde Auguste de Saint-Hilaire pernoitou durante a herborização pelo Planalto Central, guarda relíquia, vinda da Inglaterra, à época, representada por uma peça de ferro, chamada “chocolateira”, usadas pelos habitantes da região para preparar as mezinhas ao fogo crepitante.

Uma raridade!

 

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

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