PABLO NERUDA, OS AMORES –

O chileno Pablo Neruda (1904-1973), o mais amado poeta do século vinte, continua encantando mulheres e, também, quem costuma conjugar o verbo amar. Ao conceder-lhe o Prêmio Nobel, em 1971, a Academia de Letras da Suécia deu a razão: “Poeta da Humanidade Violentada”.

Vinicius de Moraes, seu irmão de eleição, parceiro, companheiro, que, inclusive, misturou com ele o sêmen em uma mesma fonte feminina, descreveu a geografia básica dos amores de Neruda em “Cantar de Amigo e Cantar de Amor”: “A Holanda te deu Maruska; a Argentina, La Hormiguita, bela e fundida da cuca. Deu-te o México, Maria. O Brasil deu-te Marina, teu amor secreto e humilde. Mas o mundo emocionado, muito mais houvera dado, se teu Chile enciumado, não te ordenasse Matilde: A Grande Amada Matilde”.

Não consegui descobrir quem foi a amante brasileira. Suponho, apenas, que foi a amada comum, oculta. Neruda e Vinícius foram diplomatas de fato e nas palavras, distinguindo a beleza fundamental das mulheres, a sua força, o seu poder.

Entre tantas mulheres decorridas, Neruda casou-se com três. A primeira, em Jacarta, “Maruska”, ou Maria Antônia Hagenaar, tinha sangue malaio e tentava aprender espanhol. O Poeta apreendeu uma única palavra em malaio: “tinta”, o mesmo significado em castelhano e em português. Ela era suave, mas ele a considerava “enorme” e o casório faliu.

Délia Del Carmen, artista plástica argentina, era vinte anos mais velha que o marido. Mas o amor tudo suporta. Em Madri, o Poeta reclama que ela se converteu completamente ao espiritismo. Com o poeta Rafael Alberti, encheu a morada do casal de fantasmas. Neruda acreditou que as pessoas tinham medo de visitá-los. A união terminou desfazendo-se.

Matilde Urrutia, o amor definitivo. Para a amada, um livro amoroso, “Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada”, e a construção da casa de Santiago, “La Chascona”, ou seja, a descabelada, alusão à forma dos seus cabelos.

Segundo Neruda, as mulheres “sorriem quando querem gritar, cantam quando querem chorar, choram quando estão felizes”. Acrescenta que elas nunca aceitam a injustiça nem o “não” como resposta. Amam incondicionalmente. E conclui: “O coração de uma mulher é que faz o mundo girar”.

O Poeta dedicou sua vida a amar, ao amor, e sentia-se triste com o esquecimento. Considerava que o amor nasce da memória, vive da inteligência e termina pelo esquecimento. O amor, como a vida, é curto, e alongado é o esquecimento.

A humanidade continua a louvar o seu Poeta e exaltar o amor expresso nos seus versos. Se cada ser humano se dedicasse a amar, a felicidade reinaria sobre a terra.

Matilde e Pablo estão juntos, sepultados ao lado da residência Isla Negra. O amor do casal tem aroma de eternidade.

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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