PALAVRAS DITAS…OU NÃO DITAS?! –
“As palavras dançam / Uma dança desconexa …” (Regina Azevedo)
Eu poderia começar este texto com uma oração que terminasse assim: “…mas livrai-nos da CPI, amém”. Isso porque sou incapaz de responder a qualquer pergunta com um simples Sim ou um Não.
As palavras foram “criadas” para facilitar a comunicação verbal, que no entanto, estão sendo substituídas por “figuras” e grafias abreviadas e codificadas, por puro comodismo de um mundo que aparenta preguiça em transmitir claramente aquilo que deseja “dizer”.
A impaciência de um tempo veloz está angustiando até os tidos como mais tolerantes no seu “jeito” de ouvir. Está levando a comunicação para um ponto crucial: “eu pergunto e já adianto a resposta que espero que o outro diga”. Preste atenção quando um repórter entrevista alguém. Se a resposta não for aquela esperada, desconcerta totalmente o entrevistador e, certamente, sobressai-se a intolerância no saber ouvir e respeitar a opinião do interlocutor.
“Por favor, responda Sim ou Não”. Nem Salomão agia assim. O direito que eu tenho de perguntar deve ter a mesma dimensão do meu dever de ouvir.
Provérbios 1 nos ensina: “Se o sábio der ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discernimento obterá orientação para compreender provérbios e parábolas, ditados e enigmas dos sábios.”
“É factível afirmar-se que estamos com excesso de ‘sabidos’ e carência de ‘sábios’?”. Essa indagação feita pelo pensador Ânjelo da Costa, postada em um grupo de amigos engenheiros, ficou ressoando durante esses dias em que, recluso, tive que dar uma pausa nos meus escritos por razão de alguma instabilidade emocional que quis me afetar, mas que sem soltar a mão de Deus, diluiu-se e me fez retomar o fôlego da “sobrevivência”.
Assistindo aos noticiários sobre a CPI captamos, com muita facilidade, de um lado e de outro, esse excesso e essa carência. Abstraído de julgamentos, pois essa missão não está delegada a mim, vou além das aparências que interrogadores e interrogados se revestem de suas versões, esforçando-se para “impor” suas verdades como absolutas.
Entendo que perguntas e respostas devem traçar o caminho do esclarecimento sem a “humilhação” e sem a “soberba” dos atores que adjetivam um ao outro, conforme dita a ira e a fragilidade de cada “coração”.
“Sábios” e “Sabidos”, um armando e o outro tentando escapar da mola e do martelo, análogo a uma ratoeira armada com queijo (simbolizado pela verdade ou pela mentira) que engana ora quem armou, ora quem mordeu.
Um sujo interpelando um mal lavado certamente exalam odores por todos os lados, deixando confuso e indignado a plateia que não sabe mais a quem aplaudir ou a quem dirigir apupos.
Todos escondem seus “pecados”, mas cada um usa a aquarela do descaramento para colorir suas palavras que não são levadas a sério.
Em Isaías 56:11 está escrito: “E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte”.
Tenhamos então reverência pelas palavras ditas ou não ditas, pois elas fazem uma grande diferença quando queremos atingir o objetivo da comunicação eficaz e do esclarecimento da verdade.
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)