Dentre meus amigos diletos um é ateu de carteirinha. Sei, perfeitamente, que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, razão porque a sua descrença em qualquer divindade não afeta nossa convivência salutar. Meu amigo, é um profissional competente, possui boa cultura, bom humor e grande generosidade.
Em nossas conversas evito tocar no controverso assunto religiosidade para evitar antagonismos que possam macular nossa amizade. Entretanto, aos poucos, fui descobrindo os motivos que embasaram o seu ateísmo, bem como fragmentos das opiniões que ele defende acerca da vida, da morte e sobre Deus.
Filho de mãe cristã fervorosa, meu amigo, quando criança, foi coroinha na paróquia da cidade onde nasceu – segundo ele, ainda ajudou missas celebradas em latim. A primeira desilusão com a religião aconteceu na infância, diante da doença de um avô querido. Após rezar até cansar pela recuperação do parente, ele morreu em 16 de dezembro de 1963.
Naquele mesmo ano o papa João XXIII caíra doente e fieis de todo o mundo oraram pela recuperação de Sua Santidade, que faleceu em junho de 1963. A conclusão de meu amigo: “Se as orações do mundo inteiro não foram suficientes para salvar o papa, imagine qual poder teria a da nossa família para salvar o meu avô?”.
O golpe de misericórdia na sua já abalada crença partiu de um grande amigo da família que, peremptoriamente, afirmou: “A maioria das pessoas que vai à igreja, age assim por desencargo de consciência ou com receio do que aconteça de ruim consigo, após a morte.
O amigo assevera que estamos aqui por obra e graça do acaso. Não passamos do resultado de espermatozoides desnorteados que, dentre milhões de congêneres, conseguiram germinar óvulos. A religião é um apoio para amenizar agruras. A nossa vida é uma passagem efêmera e a morte é o ponto final. Espírito é balela.
A descrença na existência de um espírito e da vida além da morte inibe quaisquer tentativas de pelejar contra seus pontos de vista. Alardeiam que os envolvidos com as ciências exatas, via de regra, são ateus. Discordo. Muitos cientistas famosos do passado criam em Deus.
Eis alguns deles: Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1561-1630), Galileu Galilei (1564-1642), René Descartes (1596-1650), Isaac Newton (1642-1727), Robert Boyle (1791-1867), Michael Faraday (1791-1867), Gregor Mendel (1822-1884) e Max Planck (1858-1947).
Albert Einstein (1879-1955), o mais reverenciado cientista do século XX, embora nunca tenha chegado a crer num Deus pessoal, reconheceu a impossibilidade de um universo não-criado. Estes são alguns de seus pensamentos: “Ciência sem religião é coxa, religião sem ciência é cega”, “Deus é a lei e o legislador do Universo”, “Deus é hábil, mas nunca enganador” e “Quanto mais me aprofundo na ciência mais me aproximo de Deus”.
Sem qualquer pieguice acredito que, em algum momento da vida, haverá o chamamento de Deus a nós, para a crença na Sua existência. À minha maneira, torço para que chegue a hora da verdade para esse amigo estimado que reluto em citar o nome. De fala fácil e grande poder de comunicação, que baita evangelizador seria Armando Negreiros. Ops! Ferrei-me!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]