PARA ALÉM DA SECA NO SERTÃO DO NORDESTE, NO PRESENTE MAIS A PANDEMIA –

A estiagem periódica fazia acrescer o espantoso espírito de sobrevivência do sertanejo. A duradoura sequidão de 1877 fez rachar o solo e secar caldeirões e lençóis d’água esparsos, intensificando o desgaste e a fuga. No atravessar a canícula agoniante de 1878, já não se havia de suportar a sobrevivência dos animais, que eram, quando há tempo, sacrificados para prover a alimentação. A cruel e descaroável situação inumana permaneceu no sôfrego e agastadiço 1879.

Assim sucederam décadas a fio até a seca de 1915, instantes repintados com doçura e sofrer pela acadêmica Raquel de Queiroz, no romance O Quinze.

A sucumbência da vida acontecia as milhares de almas. Da catinga de solo raso e pedregoso, na amplitude transformada em inferno, na dissipação dos sulcos e veios, onde antes aflorava um talho de olho d’água, somente a areia granulosa e dissipável a mourejar os corpos dos retirantes naquele chão vencido, imorredouro. A morte pela insânia desmedida. Adentravam ao platô dos martírios no sertão reavivado por umbuzeiros exauridos, mas não bastava. Sedentos animais de tão esqueléticos prostravam-se diante de olhinhos resignados. Caminhos estéreis de poeira eram repisados, atalhos surgiam na senda dos caminhantes, pensas cruzes de pau ressequidas erguidas a cada dia na lonjura dos caminhos. Aqueles símplices sertanejos com pouco mais de sorte possuíam carroças, de há muito arrastadas por homens e animais debilitados.

O transido da seca sucedeu à diáspora em séquitos dolorosos.

Pelo sertão enfiado, aquelas almas e animais fragílimos careciam de alguma manifestação que lhes impulsionasse a caminhada agônica. Mas sempre em frente, com fé e esperança!

“Louvado seja, meu Santo Antônio Conselheiro!”, do romanceiro popular sertanejo.

 

 

 

Luiz Serra – Professor e escritor
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