PASSIONAIS –
Somos passionais e como somos. Chegando as eleições, vejo como agimos mais com o emocional do que com a razão. Brigar por políticos? Por futebol? Por religião? São coisas que não costumo fazer. Mas, existem muitas pessoas (bote muitas nisso) que fazem. Umas defendendo interesses financeiros, outras por amizade, mas poucas, por convicção. A verdade é que nesses momentos as pessoas se transformam se esquecem da dureza da vida, se esquecem das denúncias contra os políticos corruptos e vão defender as suas cores, a sua fé. Somos passionais na vitória ou na derrota, por quê? Porque somos humanos. O ser humano talvez tenha sido o último dos seres vivos criados por Deus, justamente, por sua imperfeição. Quase sempre o ser humano quanto mais tem mais “burro” fica, perdendo-se nos conceitos da ambição e da desonra. Parei um pouco para refletir, olhando para o mar, na solidão do meu alpendre, comecei a lembrar-me dos meus pais, dos meus avós, familiares, amigos, pessoas boas que se foram e que certamente estariam achando muito esquisito o que estamos vendo agora e que talvez estejam mais felizes no mundo dos mortos que no nosso mundo. Somos passionais sim, dos mais esclarecidos aos mais humildes.
Passou pela minha casa, um velho pescador lá da praia de Cotovelo, conhecido por Chico Timbira, e parou para prosear um pouco já que, embora eu esteja sempre indo a praia, fazia tempo que eu não via Timbira. Pois bem, foi me vendo, se “achegando” e dizendo.
– Bom dia “doto” Guga, como vai o senhor?
– Vou bem Timbira e você? Quanto tempo à gente não se fala!
– É “dotô,” passei uns tempos fora pra ver se a vida melhorava para mim, mas estar ruim em todo canto. Num tem lugá bom pra pobre, pra onde a gente vai a coisa aperta.
– Sabe Timbira, estava aqui há pouco tempo matutando sobre este mundo de meu Deus, pensando exatamente o que você estar me falando. Se meu velho pai estivesse vivo estaria achando as coisas meio atravessadas.
– Pois é, o senhor já viu a pouca vergonha que rola por aí? Tem mais ladrão na política do que piaba no rio Pium. Oi “doto” Guga, fazia muito tempo que não se falava em morte de faca ou tiro em campanha política. Perseguir funcionário isto era coisa que ouvi falar quando era rapazola, mas agora, minha filha Juliana que é professora ouviu dizer que quem não votasse no candidato do “ôme” ia parar no olho da rua.
– Que coisa em Timbira? Não tem jeito “o pau que nasce torto morre fazendo besteira”. Mas mudando de assunto, já que você falou de uma de suas filhas, me lembro que você tinha três filhas e com todo respeito muito bonitas. A onde elas estão e com vão de vida?
– “Dotô,” a Juliana estar aqui comigo. Casou, me deu dois netos, é professora, o marido tem uma mercearia lá pra dentro da Colônia e estão vivendo. A Carla estar bem, não quer casar, é funcionária do governo federal.
– E aquela galeguinha, a mais nova que pra mim é a mais bonita?
– Pois é dotô, a pobrezinha não teve sorte, casou com um sujeito que não vale nada.
– E que diabo faz este cidadão Timbira?
– Sei não dotô, eu só sei que o desgraçado deu até pra ser corno!
Dei uma risada em meus pensamentos e constatei.
Como somos passionais.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN