PÁTRIA AMADA BRASIL –
Hoje eu plagiei o folclorista Câmara Cascudo, na sua criativa exaltação ao nosso povo, quando afirmou que “o melhor do Brasil é o brasileiro”. Apropriei-me, também, de ditado do jornalista Nelson Rodrigues para montar o meu próprio axioma: “O melhor para o Brasil é o brasileiro, desde que liberto do seu complexo de vira-lata”.
Vejam se não procede tal linha de raciocínio. Alguém já parou para analisar a versatilidade que um povo resultante da miscigenação de índios, portugueses e africanos, teve de lançar mão para desbravar e conservar um território continental de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e se tornar a quinta maior nação do planeta.
Como ao longo de 500 anos, esse mesmo povo conseguiu manter o país unido e falando o mesmo idioma, embora sendo dilapidado de suas riquezas naturais pela cobiça de nações poderosas; ou, ainda manter a soberania de um território inóspito como o da Amazônia, sem possuir poderio bélico condizente para tanto.
Ah, quanto ganho teríamos obtido se abandonado fosse o complexo de inferioridade estagnado na nossa índole, e vermos exaltado o verdadeiro orgulho de ser brasileiro! Como teria sido diferente se, séculos atrás, tivéssemos nos livrado do câncer do colonialismo.
Em qual patamar de desenvolvimento estaríamos hoje se, desde o início do Brasil-república, houvéssemos investido numa educação de qualidade para pavimentar o futuro desse povo alegre por natureza e criativo por vocação.
Deixei-me invadir por essa onda de nacionalismo em decorrência do clima de pátria amada Brasil, que aflora no mês de setembro. É difícil para o brasileiro incutir na cachola a excepcionalidade da qual é portador para extrair resultados positivos em benefício próprio. Citemos apenas duas iniciativas de engajamento da nação num processo de criatividade, que serviram de exemplos para o mundo.
O primeiro deles foi na luta contra a Aids. Em junho de 1981, ano do descobrimento do vírus HIV, o grau de letalidade da doença detinha expectativa de vida de apenas 5,8 meses, o que a transformou no mal do planeta. Em 1996, enquanto o mundo, ainda perplexo, não sabia como controlar a então “doença dos gays”, o Brasil tomou a iniciativa de oferecer tratamento público para todas as pessoas infectadas.
Para tanto, peitou poderosas companhias farmacêuticas multinacionais, quebrando patentes brasileiras de remédios antiAids para atender a população portadora do vírus. O modelo brasileiro virou referência mundial por adotar, precocemente, uma ação integrada de prevenção e tratamento da doença.
O outro exemplo foi no combate ao fumo. Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em julho último, no Rio de Janeiro, sobre a Epidemia Mundial do Tabaco, aponta o Brasil como referência mundial no combate ao tabagismo.
Esse resultado é constatado no cotidiano de cada brasileiro. Um país tomado pela epidemia viciante do fumo, conseguir sobressair-se das demais nações do planeta no controle do mal, é motivo, sim, de orgulho e esperança para nós brasileiros.
Apontam o Brasil como um país protegido pelos deuses do universo. Enquanto na maioria das nações do planeta ocorrem desastres naturais de toda ordem,
aqui, desastres de verdade, somente os produzidos por nossa política devastadora.
Porém, acredito que recorrendo a criatividade endêmica da qual falei, para enfrentarmos tal problemática também encontraremos a solucionática adequada.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor