PAU QUE NASCE TORTO… – 

O telefone tocou ontem à noite, era Jesualdo contando estripulias, cometidas por sua sobrinha Germinia. Ouvi boquiaberto, sem querer acreditar.

Quem nunca remexeu ao menos o pezinho ao som do grupo baiano “É o Tchan”?  Chego a pensar, seria o famoso refrão de uma das canções do grupo: “pau que nasce torto, nunca se endireita”, uma verdade? Será mesmo impossível mudar no indivíduo algo que a ele acompanha desde pequeno?

Jesualdo, usando o seu conhecimento político, conseguiu colocar sua sobrinha Germinia em cargo de confiança de uma das secretarias do município onde morava. Não sabia ele que a sua parenta foi lotada justo no setor de finanças da instituição.

Tudo corria bem, Germinia que por muito tempo parecia ser um produto da prateleira do supermercado, cheia de rótulos, a grande maioria, ruins: Criança birrenta, chorona, malcriada, mimada, tímida, adolescente problemática, rebelde, adulta ciumenta, estressada, ansiosa, deprimida, trambiqueira… a lista não parava de crescer, até que se encontrou no novo emprego. Estava calma.

Ledo engano. De uma hora para outra, a receita federal, começou a cobrar impostos não pagos de profissionais que haviam trabalhado no órgão público em anos anteriores, e por motivos diversos, pedido afastamento de suas funções.

Descobriu-se que Germinia, todo final de mês, gerava contracheque em nome dessas pessoas exoneradas, falsificava a assinatura da vítima no verso do documento e depositava a quantia em sua conta bancária pessoal.

Eram dezenas de salários, de funcionários que não mais existiam, mas as ordens de pagamento, eram preparadas na calada da noite e resgatados dia seguinte pela doce Germinia, que visivelmente melhorava seu padrão de vida, chegando inclusive a inaugurar uma pequena fábrica de reprocessamento de plástico.

Aberto inquérito para investigação, a sobrinha de Jesualdo foi considerada culpada e além de ser afastada da função que ocupava, obrigada a devolver o dinheiro surrupiado, tudo isso sem falar na dor de cabeça que deu às vítimas cujos nomes e CPF foram por ela usados, tendo que se justificar perante o Leão.

O mais interessante ainda estava por ser descoberto. A fábrica de reciclagem de plásticos de Germinia, na realidade, trabalhava com camisa de vênus usadas. Diariamente, a desmiolada comparecia em portarias de motéis da cidade, junto aos quais havia se apresentado como benemérita de uma casa de auxílio a menores abandonados. Segundo ela, juntava preservativos e tampinhas de garrafas para entregar em local especializado em reaproveitamento, em troca de ajuda para seus pequenos.

Na realidade, Germinia recolhia em média 300 camisinhas por dia, depois de lavadas e enxutas, as mergulhava em óleo lubrificante, para posteriormente enrolar e colocar em saquinho plástico similar aos originais, as vendendo a baixo custo na periferia da cidade.

Jesualdo não podia acreditar na criatividade da sobrinha, nem eu…

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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