PEDALINHO – Bárbara Seabra

PEDALINHO –

Passei em frente à Nick. Estava fechada. Lembrei de ter visto uma postagem sobre isso. Ainda assim, a cena me incomodou. Recordei da minha infância, quando era filha única e meus pais me levavam para andar de pedalinho na Cidade da Criança, seguindo para as docerias da cidade. Uma vez na Nick, outra no BomBocado. Eram apenas estas!

Eu amava estes passeios. O pedalinho fazia-me sentir a liberdade do vento batendo no rosto, enquanto o medo de cair na água causava-me um gostoso frio na barriga. Porém, no fundo, sabia que ao lado de papai (ele quem comandava o passeio) nada de mal me aconteceria… Depois, íamos lanchar. No BomBocado comia bomba de chocolate (hoje devemos chamar de éclair!). Na Nick, fazia um pratinho com um pastel, um docinho de uva e um de morango, em forma de maçã. Eu nunca mudava. Aliás, até hoje tenho esse hábito. Leio e releio os cardápios e acabo nos mesmos pedidos em cada restaurante. Este ano resolvi que mudaria, mas estou em processo de adaptação. Como mudar um hábito tão nosso?

Os anos se passaram e o pedalinho ficou para trás, como muitos outros hábitos. Até que… Até irmos ao Natal em Gramado. Os filhos, ainda pequenos, enchiam-nos da alegria de fazer turismo natalino. Fomos ao Lago Negro e, ao ver o pedalinho, corri para ele, feliz da vida. Queria que os meninos sentissem o mesmo que eu sentia com papai, mas, na verdade, fiquei apenas me questionando em qual momento a gente cresce?

Sim, a gente cresce! E passa a achar que sabe mais que os pais. E, depois, passamos a entender que não são os pais que devem nos proteger, mas nós passamos a protegê-los… E hoje, quando penso que sei, vejo nossos filhos achando que não sabemos nada… Ah!, este ciclo da vida…

No pedalinho, agora comandado por Flávio, olhava os meninos rindo enquanto íamos de um lado para o outro do lago, vendo os animais nas margens e outras famílias também se divertindo.  Pensava na alegria que boas memórias nos oferecem. Simples e genuína…

Por isso, a tristeza de ver a Nick fechada. Porque, muitas vezes ao longo de minha vida, quando eu me sentia triste, parava lá e pedia, num pratinho de papelão, 3 coisinhas: um pastel, um docinho de uva e um de morango.

E quando comia cada um deles, pensava no pedalinho, na proteção de papai e na alegria de termos a vida inteira pela frente. E isso me bastava…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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