PEGADINHA DO ANO –

O Banco Central do Brasil despejou uma verdadeira ducha de água fria na expectativa de quem esperava resgatar alguma quantia razoável dos cofres da instituição, provenientes do programa de restituição de valores. Diz-se que a esperança é a última que morre. Nestes tempos bicudos, muitos mantiveram viva a esperança de receber algo significativo quando foram positivados no site do banco.

Pudera. O Banco Central, uma empresa pública séria, se propondo a devolver dinheiro do contribuinte acumulado em transações diversas do passado e guardado sem que soubéssemos de sua existência durante anos. Procedimento inacreditável, porém, muito bem-vindo para bolsos corroídos pelo desemprego e pela inflação galopante. Nunca uma data foi tão aguardada como o dia 7 de março último.

Maior que a expectativa foi a decepção de boa parcela da população. Num dos noticiários televisivos da noite daquele dia, uma senhora do nosso estado falando acerca da destinação que daria ao numerário esperado, falou: Desejo comprar um carro novo… Uma pena! A dita senhora se decepcionou com o valor recebido.

Vamos à pegadinha. Não gosto de jogar apostando. Tenho pavor aos jogos de azar – aqueles nos quais os que tem sorte são os que ganham com o azar dos outros jogadores, devido à diferença de probabilidades entre a sorte e o azar. Detesto loteria esportiva, sena, megasena, quina e todo jogo pago baseado na teoria das probabilidades. Só adquiro rifas beneficentes desde que não preencham o canhoto de identificação para eu classificar como contribuição.

A quantia acumulada pelo Banco Central pertence, de fato e de direito, a empresas e contribuintes do Brasil. Vinte e sete milhões serão os beneficiados. Portanto, nenhuma razão para constrangimento em receber o numerário. Afinal, bastaria apertar algumas teclas do celular e pimba! Dinheiro no bolso.

Ledo engano. Uma verdadeira maratona de idas e vindas diante da telinha do celular. Canseira das brabas. Processo apropriado para crianças prodígios ou especialistas em computação. Pobre de quem não possuir paciência e equilíbrio para persistir nas tentativas. Consegui dominar os rompantes para não quebrar o celular e fui em frente. Juro que não foi por ganância, mas em atenção a pedido da esposa.

Ainda em fevereiro utilizei o meu CPF para consultar o Sistema Valores a Receber (SVR) do banco e encontrei, sem decepção, a seguinte mensagem: Não há registros na base de valores a receber. Quando inseri o CPF da esposa, a história foi outra: Consulta realizada com sucesso. Uma esperança de boas novas. Afinal as mudanças de moedas, de planos, resíduos de consórcios e saldos de contas encerradas em bancos durante anos, algum benefício resultaria para o tamanho da mão de obra.

Às primeiras horas da manhã do dia 7 fui instado a acessar o valoresareceber.bcb.gov.br. Uma mensagem fria alertava: Somente depois das 14h. Depois do almoço, outra vez fiz a consulta e obedeci aos procedimentos estabelecidos: Faça sua conta nível prata ou ouro para aumentar seu nível bronze. Antes eu já havia providenciado o reconhecimento facial, dados básicos, endereço, segurança e privacidade. Com tamanho cuidado, imaginei: Quanto será o aluguel de um carro-forte?

Ufa! Finalmente concluí o processo. Para aumentar a expectativa outra mensagem: Estamos concluindo o processo de identificação. Agora vem… E veio! Valor a receber: R$ 0,01. Isso mesmo, um centavo de real. Não resistimos e caímos ambos na gargalhada. Sim, gargalhamos. Claro! Havíamos caído na Pegadinha do Ano.

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro Civil

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