PELÉ: PAZ, AMOR E ARTE –
Na opinião do escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, dramaturgo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro, Nelson Falcão Rodrigues: “Toda unanimidade é burra!”.
Porém, se vivo fosse hoje, ante a unanimidade do mundo inteiro exaltando a genialidade do brasileiro de Três Corações, Edson Arantes do Nascimento, ele se contradiria ao ponto de modificar a festejada assertiva para: “Toda unanimidade é burra, exceto na admiração ao Pelé”.
Nelson Rodrigues tanto admirava o jogador santista e da seleção brasileira que lhe pôs a alcunha de rei, “Rei do Futebol”. Esse admiração se consolidou após o cronista assistir ao jogo Santos x América-RJ, no Maracanã, no dia 26 de fevereiro de 1958, pela primeira rodada do Torneio Rio-São Paulo.
Naquele jogo, o clube santista venceu o time carioca por 5 a 3. Dos cinco gols do Santos, quatro foram marcados por Pelé. Admirado com o desempenho do rapaz de 17 anos, ele escreveu: “Sozinho, liquidou a partida, monopolizou o placar”. Nessa crônica dedicada ao garoto santista, pela primeira vez Pelé foi chamado de “Rei”.
Na biografia O Anjo Pornográfico (1992), de autoria de Ruy Castro, é reproduzido texto de Nelson Rodrigues publicado na revista Manchete Esportiva, em 8 de março de 1958: “Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável – a de se sentir rei da cabeça aos pés”. E mais adiante: “Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.
Segundo Ruy Castro, dos quatro gols que Pelé enfiou nas redes do América-RJ, um deles chamou a atenção do cronista. Aquele em que o craque, antes de encaçapar a bola na rede adversária, dribla o primeiro, entorta o segundo e corta o terceiro zagueiro. “Até que chegou o momento em que não havia ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: a defesa estava indefesa”.
Na crônica “Meu personagem do ano”, em janeiro de 1959, Nelson Rodrigues não cansou de exaltar a genialidade de Pelé: “É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme de Brigitte Bardot, seria barrado. Mas, reparem: é um gênio indubitável. Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: ‘Como vai colega?’’’.
Descreveu-se acima a arte de Pelé. Pouco se exaltou a bondade, a simplicidade, o carisma e o grau de pacifismo contidos no âmago do cidadão Edson Arantes do Nascimento que, coincidentemente, também abrigava Pelé.
Lembremos a despedida do craque no Giants Stadium, em Nova York, no 1º de outubro de 1977, no jogo Cosmos versus Santos, quando vestiu no primeiro tempo a camisa do time norte-americano e, no segundo, a camisa da equipe brasileira resultando na vitória do Cosmos pelo placar de 2 a 1. Diante de 75.646 torcedores ele proferiu o emblemático “Love, love, love”, repetido em coro pelo estádio lotado. (38)
Recordemos, também, a paralização da guerra civil no Congo Belga e na Nigéria, no início de 1969, durante excursão do Santos pela África. O fato ocorreu durante a partida, quando forças do Congo-Kinshasa (ex-Zaire) e Congo Brazzaville estiveram pacificamente no mesmo estádio para ver Pelé jogar.
Por último, o milésimo gol no Maracanã, em 19 de novembro de 1969, em partida entre Vasco e Santos, válida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, quando falou: “Dedico esse gol às criancinhas pobres do Brasil”.
Descansem em paz, Pelé e Edson Arantes do Nascimento!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
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