WALTER WILLIAMS (1936 – 2020) – 

Faleceu no início deste mês, o economista liberal Walter Williams. Era pouco conhecido no Brasil. Nasceu negro e pobre e subiu na vida graças aos seus esforços pessoais. Serviu como cabo do Exército de seu país e chegou a ser motorista de taxi em Nova Iorque. Foi detentor da cátedra John M. Olin de Professor Emérito em Economia da Universidade George Mason. Escreveu dez livros e 150 artigos acadêmicos. Também foi colunista de vários jornais. Ficou conhecido por suas críticas mordazes das políticas de ação afirmativa e do assistencialismo social.

Relembro, em sua homenagem, algumas pensatas que nos fazem refletir tanto sobre a realidade brasileira como a mundial. Bom proveito.
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Como pode algo que é considerado imoral quando feito individualmente se tornar moral quando feito coletivamente? Será que a simples legalização basta para estabelecer a moralidade?

A escravidão era legal; os confiscos stalinistas e maoístas eram legais; a perseguição dos nazistas aos judeus era legal; o apartheid na África do Sul era legal.

A legalidade tornava esses atos morais? Claramente, a estipulação da legalidade não justifica esses crimes. A legalidade, por si só, não pode ser o talismã das pessoas morais.
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Talvez o seu professor de história tenha ensinado a você que o legado do colonialismo explica a pobreza do Terceiro Mundo. Lamento, mas você foi enganado. O Canadá foi uma colônia. Austrália, Nova Zelândia e Hong Kong também foram colônias. Aliás, o país mais rico do mundo, os Estados Unidos, também foi colônia.
Por outro lado, Etiópia, Libéria, Tibete, Nepal e Butão jamais foram colônias, mas hoje abrigam as pessoas mais pobres do mundo.
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A estrada que estamos trilhando, em nome do bem comum, é muito familiar. Os inenarráveis horrores do nazismo, do stalinismo e do maoísmo não foram originalmente criados nas décadas de 1930 e 1940 pelos homens associados a tais rótulos. Aqueles horrores foram simplesmente o resultado final de uma longa evolução de ideias que levaram à consolidação do poder nas mãos de um governo central, e tudo em nome da “justiça social”.
Foram alemães decentes, porém mal informados — e os quais teriam tido espasmos de horror à simples ideia de extermínio e genocídio —, que construíram o Cavalo de Tróia que levou Hitler ao poder.
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Todos nós somos tremendamente ignorantes a respeito da maioria das coisas que utilizamos e com as quais lidamos em nosso dia a dia. Mas cada um de nós é versado em coisas ínfimas e que podem ser consideradas relativamente insignificantes.

Por exemplo, um padeiro pode ser o melhor padeiro da cidade. Mas ele é tremendamente ignorante sobre praticamente todos os insumos que permitem a ele ser o melhor padeiro da cidade. Qual é a probabilidade de ele entender sobre todo o processamento do gás que ele utiliza em seu forno? Aliás, o que será que ele entende sobre a fabricação de fornos? E o que dizer sobre todos os ingredientes que ele usa: farinha, açúcar, levedura, baunilha e leite?

Qual é a probabilidade de ele saber como cultivar trigo e açúcar, e como proteger a plantação de doenças e pestes? O que ele sabe sobre a extração da baunilha e da produção de fermento? Será que ele tem a mais mínima ideia de como tudo isso é feito?

Tão importante quanto tudo isso é a questão de como todas as pessoas que produzem e distribuem todos esses itens sabem quem necessita deles e para quando.

Há literalmente milhões de pessoas cooperando entre si, por meio do sistema de preços e da busca pelo lucro, para garantir que o padeiro tenha todos os insumos necessários. Esse é o milagre do mercado. É o milagre do mercado e do sistema de preços que faz com que todo esse trabalho de coordenação seja feito de maneira tão eficiente. Aquilo que é chamado de mercado é simplesmente uma coleção de milhões e milhões de decisões individuais independentes tomadas diariamente não apenas em um país, mas em todo o mundo.

E quem coordena todas as atividades de todas essas pessoas? Tenha a certeza de que não existe nenhum comitê central planejando a produção e a distribuição de pão.
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O poder que presidentes, deputados e senadores têm de fazer bem para a economia é extremamente limitado; o poder que eles têm de fazer o mal é devastador. A melhor coisa que políticos podem fazer para a economia é parar de fazer mal. Em parte, isso pode ser alcançado por meio da redução de impostos e da redução de regulamentações. Acima de tudo, eles deveriam parar de querer controlar nossas vidas.
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Se fosse à Anistia Internacional para classificar países de acordo com a proteção aos direitos civis, ou se os classificasse pela renda per capita, veria que a maior riqueza desses países é o grande sistema de livre comércio. Os países mais pobres são socialistas ou comunistas. Você pergunta como pode o Chile ser tão mais rico que a maioria dos outros países da América do Sul? Eles não tiveram grande liberdade política sob o governo de Pinochet, mas tiveram maior liberdade econômica. Como pode a Coreia do Sul ser mais rica que a do Norte? Liberdade econômica. Por que a Alemanha Ocidental era mais rica que a Oriental? Porque tinha maior liberdade econômica.
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No anos 1990. Eu, às vezes, passeava pelas lojas, ficava só olhando vitrines. Descobri que a maioria dos bens de alta tecnologia era mais cara no Brasil do que nos Estados Unidos. Era muito mais caro comprar computadores ou impressoras. Eu perguntei: “Mas como?” Era por causa da regulamentação do governo. Durante a minha primeira palestra em Porto Alegre, eu disse: “Tenho certeza de que as pessoas se reúnem em Brasília todo dia para criar normas que tornem os brasileiros mais pobres do que seriam.”
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(…) o Brasil conseguiu acabar com a escravidão sem travar uma guerra muito cara, como aconteceu nos EUA. Travamos uma guerra que matou 600 mil pessoas. Foi a guerra mais custosa que os EUA já travaram. O Brasil e muitas ilhas do Caribe conseguiram acabar com a terrível instituição da escravidão sem a violência que houve nos EUA. Com base nisso, estou dizendo… Se eu fosse um homem de Marte, analisando a história, eu diria: “Os negros brasileiros deveriam estar à frente dos americanos.”

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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