1- Carta ao leitor – Folha de S. Paulo
Gerald Neto: “Sou negro e policial, não gosto do vitimismo e ressentimento do qual o movimento negro, que não apoio, se tornou refém. A polícia não sai de casa para matar negros, sai para prender bandidos. Os negros, por outro lado, são mortos em sua maioria por outros negros, normalmente por brigas, assalto ou violência em geral. O movimento negro devia brigar para melhorar nossa educação e para exigir que nós negros subamos pelo sucesso e empreendedorismo. Chega de vitimismo.”
Paulo César de Oliveira: “Genocídio haveria se negros estivessem sendo mortos por serem negros tal como judeus, armênios ou tutsis foram mortos por serem o que eram. Não me parece ser o caso.”
Assino embaixo.
2- Vivi para ver… As pessoas que acusam o Presidente de querer dar um golpe de estado não são contra o golpe de estado e sim, a favor; só que o golpe que aceitam é… em Bolsonaro.
O Brasil está de ponta-cabeça.
3- Doria é um forte candidato a humorista do ano.
Durante as manifestações populares pró- Bolsonaro na Av. Paulista, em São Paulo, alguns PMs, em ação coordenada, bateram continência para os manifestantes, num ato simbólico de adesão. (Imaginem se esse comportamento se alastra para outras polícias militares – que são juridicamente, militares estaduais).
Bem, para disfarçar o constrangimento, o governo Doria disse que a continência foi uma homenagem a um colega de farda dos policiais, que estava sendo sepultado naquele instante.
Um governo não consegue governar sem o mínimo de legitimidade.
4- Segunda-feira (25), ao fim de uma vídeo-conferência, Bolsonaro se autoconvidou para visitar Aras e o “colegiado maravilhoso”, na sede da Procuradoria Geral da República. Aras prometeu receber o presidente com “a alegria de sempre”.
Isto nada tem a ver com a “nova política”… É a “velha política” escancarada, que atende pelo nome de neopatrimonialismo.
5- O ministro Celso de Mello deve estar desapontado…
A Procuradoria Geral da República propôs, quanto ao vídeo da famosa reunião ministerial, que apenas as partes referentes ao inquérito fossem a público. Celso de Mello, no entanto, decidiu liberar o vídeo em sua quase totalidade, não aceitando a sugestão de Aras.
O castigo veio a galope. A revelação total do vídeo fez o dólar cair a R$ 5,45 e a bolsa de valores subir 4,25 % , chegando a 85.663,48 pontos.
Depois da queda, o coice: seu repasse da notícia-crime contra Bolsonaro desaguará no fatal “arquive-se”.
O que mais tentará Sua Excelência?
O STF funciona melhor aberto ou fechado?
6- Nada mais normal do que um presidente possuir informações particulares de amigos. Isto é informalidade. Essas informações podem estar em rede ou não. Em si, não constituem, necessariamente, nada de clandestino ou ilegal.
Daí a importância da legitimidade de um governo; pois, sendo alta, cada cidadão defende o seu presidente, provendo-o de informações. Esta é a mais ampla rede (não confundir com Sistema) de informações. Se o governo possui baixa legitimidade, o inverso acontece.
Quem é policial sabe da importância de uma polícia benquista para a elucidação de crimes. A fonte da notícia está na sociedade.
Não me canso de repetir. Critiquem Bolsonaro pelos seus erros; não pelas suas virtudes.
7- A oposição critica o fato de a deputada Carla Zambelli saber, com antecedência, que a Federal faria uma operação contra Governadores de Estado.
A deputada fala demais. Deveria ficar na sua.
Meu “serviço particular de inteligência” já me havia dito que a Polícia Federal faria uma operação na casa de Witzel. A PF é uma peneira com orifícios grandes, do tamanho das distintas correntes ideológicas que habitam esta instituição.
8- Quadro provável: Aras arquiva a notícia-crime contra Bolsonaro e é indicado para substituir Celso de Mello ou Marco Antonio Mello no STF. Vai depender de quem chegou primeiro na fila do Presidente da República.
9 – Salvo engano, o único ministro do STF a vir a público em defesa de Celso de Mello foi Gilmar Mendes. Alegou que tratava-se de uma praxe o envio do pedido de apreensão do celular funcional de Bolsonaro ao Procurador Geral da União.
Logo Gilmar, que já chamou a Operação Lava Jato de “organização criminosa para investigar pessoas”.
10- Quando o General Heleno soltou a dura nota contra a mera ilação de que Bolsonaro deveria entregar seu celular institucional, havia a dúvida se esta fora uma atitude de um amigo pessoal ou se tinha lastro maior.
A tranquilidade de Heleno e a certeza com que Bolsonaro disse que não entregaria o seu celular apontavam para o apoio das Forças Armadas. O General Heleno não fala em nome das Forças Armadas como instituição. Contudo, o Ministro da Defesa responde por elas.
Fernando Azevedo e Silva confirmou que tomou conhecimento da nota do General Heleno antes de ser publicada. E concordou com os termos dela.
Já se nota menos beligerância no comportamento de Celso de Mello. Parece, finalmente, ter entendido que a política gira em torno do poder e da ordem.
Antes tarde do que mais tarde.
Jorge Zaverucha – Doutor em ciência política pela Universidade de Chicago (EUA), é professor titular do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco. Autor do livro “FHC, Forças Armadas e Polícia – Entre o Autoritarismo e a Democracia” (2005, ed. Record)