1- A dicotomia entre ‘cientificismo’ e ‘negacionismo’ é tãoprofunda como um aquário com dois dedos de água. Quem é familiar com a história da ciência sabe que em vários temas nunca houve consenso entre os cientistas. Mesmo nas ciências ditas “duras”. Quanto mais na medicina.

Em vez de uma corrente acusar a outra de anticientificismo disputa-se quem possui os melhores diagnósticos. Esta é a competição sadia. E no caso em tela, descobrir a cura do Covid. Há vários médicos com posições distintas a respeito do melhor tratamento a ser feito, e sobre qual vacina é mais eficiente. Bem como sobre quais remédios devem ser receitados.

Infelizmente, em vez da mídia incentivar a disputa salutar entre os cientistas, rotulou-se os que concordam com o governo como sendo negacionistas. Pode ser ao contrário, não importa. E as narrativas passaram a ser politizadas.
Neste momento, a Anvisa vetou a aplicação da vacina Sputinik obedecendo a critérios científicos. Como o Consórcio do Nordeste é composto por governadores opositores ao governo federal e que se julgam favoráveis à ciência, veio a grita. O coordenador científico deste Consórcio declarou que os argumentos técnicos da Anvisa foram falhos. Ou seja, insinuou que a interpretação da Anvisa foi política. E agora? Quem é o negacionista?

 

2- Parte do Brasil envergonhado –

Foi protocolada no STF uma ação para tirar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) da relatoria da CPI da Covid. Quem vai decidir isso é o ministro Ricardo Lewandowski. Logo ele que rasgou a Constituição para manter os direitos políticos da “impichada” Dilma Rousseff. Em conluio com o então presidente do Congresso, Renan Calheiros.

Assinam a ação três senadores — Marcos Rogério (DEM-RO), Jorginho Mello (PL-SC) e Eduardo Girão (Podemos-CE) — e mais a Unabi, a Convergências, o Instituto Federalista e o Movimento Legislação e Vida. Não entendi o motivo do nome do presidente da Comissão da CPI da Pandemia, Osmar Aziz, não ter sido incluído na solicitação. Ele está com o passaporte confiscado e bens retidos.

Já o general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, atacou Omar Aziz e Renan Calheiros, comparando o presidente e o relator da CPI da Pandemia aos chefes das duas mais poderosas facções criminosas do Brasil, Fernandinho Beira Mar (Comando Vermelho) e Marcola (PCC).

“Utilizando uma expressão usada nas mídias sociais, temos os “Marcolas e Fernandinhos beira mar” investigando a atuação da polícia no combate ao tráfico de drogas”, declarou o general. Triste Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Doutor em ciência política pela Universidade de Chicago (EUA), é professor titular do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *