PENSATAS DE JORGE ZAVERUCHA

1- Pouco entendemos sobre o covid. Contudo, muitas são as análises destituídas de fundamentos sólidos.

Leio do jornalista João Gabriel de Lima a seguinte conclusão: “Erros na pandemia decorrem da incompreensão do papel do líder numa democracia”. Sabemos seu alvo.

Esta é uma análise simplória ante o dinamismo da moléstia. Tanto Lacalle no Uruguai como Modri na Índia eram há pouco tempo considerados grandes líderes no combate à epidemia. E agora são severamente criticados.

2- Cresce o descrédito –

Semana passada escrevi sobre minhas dúvidas acerca da credibilidade da CPI da Pandemia. Salvar vidas não era o propósito principal da mesma. E sim, um escudo para proteger disputas comezinhas sobre o poder. Após uma semana, minhas dúvidas tornaram-se certezas. Há uma férrea contenda nos estados e municípios sobre o rumo e ritmo desta CPI. As eleições de 2022 já são visíveis politicamente a olho nu. Stédile, do MST, vê esta CPI como caminho para o impeachment de Bolsonaro. A oposição também. Já o governo trabalha para jogar o ônus de nossa tragédia unicamente nas costas da oposição. O culpado parece ser o brasileiro.

O senador Eduardo Girão, membro da CPI, será, provavelmente, candidato ao governo do Ceará. Ele apresentou requerimento para convocar o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio (PDT). Girão alega que a PF esteve na prefeitura em busca de fraudes na compra de material hospitalar. Claudio deverá disputar com Girão o governo do estado. Afora ele, Girão quer interrogar outros dois adversários: a ex-secretária da Saúde de Fortaleza e o atual Secretário do governador Camilo Santana (PT).

Ciro Nogueira (Podemos-PI) tenta desgastar o governador Wellington Dias (PT). Com este intuito, quer aprovar pedidos para que os órgãos de investigação entreguem à CPI, cópias de inquéritos abertos para checagem da aplicação de recursos na pandemia. Detalhe: votou a favor da chapa Aziz (presidente da CPI) e Renan (relator). Quer se dar bem com o possível vencedor. Se é que haverá um.

O senador Marcos Rogerio (DEM-RO) deseja convocar quatro governadores: SP, BA, PA e AM). Todos de oposição ao governo federal. Rogerio, no entanto, não requisitou nada sobre o governador de seu estado natal….

Lembrando que o filho do relator Renan Calheiros é o governador de Alagoas. Alvo de oito inquéritos em diferentes instâncias — outros 17 foram arquivados nos últimos anos —, Renan é réu no STF, desde 2019, acusado de corrupção passiva na Transpetro. Renan disputa o controle político de Alagoas, com o presidente da Câmara Arthur Lira que é contra instalação da CPI, pois precisa de apoio de Bolsonaro. Já Calheiros está de mãos dadas com Lula. Para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é melhor fortalecer Bolsonaro do que Lula. Sem esquecer que o suplente da CPI, senador Jader Barbalho, é o pai do governador do Pará.

O novo ministro da Justiça, Anderson Torres, disse que a Polícia Federal seguirá os rastros dos R$ 37 bilhões que foram transferidos pela União para os 26 estados mais o Distrito Federal, e os R$ 23 bilhões para os municípios. Caso a investigação for para valer, em alguns lugares, não restará pedra sobre pedra. Conforme alertou a deputada Priscila Krause. Resta saber se a PF investigará com o mesmo fervor todos os governadores e prefeitos.

Corremos o risco de que sejam fechados acordos entre governo e oposição para que nós, pobres mortais, não saibamos a verdade sobre todos os erros e corrupções dos relevantes atores políticos. Será que a CPI investigará o motivo de, decorrido um ano, diversas cidades continuarem com a frota de ônibus reduzida para balancear a diminuição do número de passageiros? A lotação contribui para aglomerar as pessoas e espalhar o vírus. Quem é o responsável por esta desumana situação?

3- Nas sociedade pretorianas todas, ou a maioria, das instituições tomam posições partidárias. O padre Lancelotti participou da passeata de ontem (domingo) promovida pela CUT e PT contra o governo Bolsonaro.

Vários pastores fazem o mesmo, só que a favor do Presidente.

E a fissura política, cresce. Pretorianismo e democracia não combinam entre si.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE

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