1- JACAREZINHO: As várias polícias
*publicado originalmente em 15/05/2021 (O Globo)
Inspirado em José Murilo de Carvalho, diria haver no Brasil cidadãos de primeira, segunda e terceira categorias. São tratados diferentemente pela lei e pelas polícias. O modo como a polícia opera difere tanto a depender do território como de quem lá habita.
Os cidadãos de primeira categoria passam por cima da lei e, invariavelmente, nada acontece com eles. Se o sarrafo é alto, passam por baixo. Em sendo raso, pula-se. Os de segunda categoria estão submetidos tanto aos rigores como aos benefícios da lei. Os de terceira não têm direitos protegidos, seja porque não conseguem acesso à Justiça ou porque, quando têm, terminam regularmente prejudicados. Para eles vale apenas o Código Penal. E, acrescentaria, a polícia. As autoridades policiais sabem disso, pois precisam, por ser agentes do Estado, saber com quem estão lidando. Questão de sobrevivência.
Os residentes do Jacarezinho enquadram-se na terceira categoria. Vivem em adensamentos populacionais destituídos, via de regra, de condições dignas de moradia. O Estado só aparece em época de eleição e para realizar operações policiais. Portanto, nada do que aconteceu na Operação Exceptis deve surpreender.
Para o Secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, a operação no Jacarezinho foi um sucesso. Segundo ele, “o que a Polícia Civil mostrou foi técnica, foi maturidade, foi profissionalismo de mostrar à sociedade que aquele traficante que invadiu a casa de uma moradora, ele é inimigo de toda sociedade. Porque pode invadir sua casa na Zona Sul, na Zona Norte, na Zona Oeste. E a última barreira eram vocês (policiais). E vocês fizeram a missão de vocês. A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes. Dezenove com folhas corridas até agora”.
Há divergência sobre a narrativa do secretário. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Álvaro Quintão, declarou que nem todos os mortos têm antecedentes criminais. Um terço dos mortos não tem processos criminais no site do Tribunal de Justiça do Rio. A polícia alega ter informações próprias sobre o envolvimento dos mortos na prática de crimes. Uma investigação imparcial sobre o ocorrido é, praticamente, impossível de ser realizada. Nem para determinar o motivo de as armas dos policiais não terem sido periciadas, muito menos não ter sido apresentado um relatório de balística.
O subsecretário operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, foi mais reticente. Embora tenha defendido a ação policial, admitiu que não se pode “considerar um sucesso uma operação que termina com tantas vítimas”. E poderia ter sido mais, pois a estação Triagem do metrô só foi interditada após o início dos tiroteios. Câmeras poderiam ter sido colocadas no vestuário do policial para filmar sua atuação. Seria um modo de protegê-lo de infundadas acusações.
A polícia entrou para cumprir 21 mandados de prisão, e apenas três foram cumpridos. Voltou com 28 mortos, dentre eles um policial. Imagine-se a quantidade de mortos da operação caso ela fosse considerada imatura, amadora e sem técnica. Faltam, portanto, 18 mandados a executar. Nessa pisada, teríamos 196 mortos. A sociedade está disposta a aceitar? Não há um modo de fazer operações mais cirúrgicas? Protegeria melhor vidas inocentes, inclusive a dos policiais.
Chama atenção que foram deslocados mais de 200 homens para cumprir tais mandados, afora o uso de helicóptero. A operação era para prender ou para executar os bandidos? Se fosse em Ipanema, caso um quadrilheiro saísse de seu esconderijo e entrasse no apartamento vizinho, a polícia entraria com um pé na porta e trocaria tiros, correndo o risco de matar quem nada tinha a ver com a história? Ou adotaria outra postura?
Destaque para o nome da operação: Exceptis. Uma clara provocação ao ministro Edson Fachin, que determinou a entrada da polícia nas comunidades somente em ocasiões excepcionais. Sem definir o que vem a ser situação excepcional.
2- O cinismo de alguns países da União Europeia impressiona. A UE demanda que Israel reaja proporcionalmente aos ataques do Hamas.
Por acaso estes mesmos países pedem que suas forças policiais atuem proporcionalmente quando buscam terroristas que matam civis inocentes nas ruas europeias?
3- A boquirrota Manuela d´ Ávila não ia perder a oportunidade de se manifestar. De seu Twitter, acusou Israel de ser um projeto colonialista, praticar o genocídio bem como apartheid contra o povo palestino.
Israel não luta contra o povo palestino, e sim contra uma organização terrorista islâmica que não aceita a existência de Israel.: o Hamas.
Os negros na África do Sul almejavam mudar o regime político. Nunca pregaram a destruição deste país. Quanto a genocídio, este conceito só poderia ser aplicado para o Hamas. Em seu Estatuto, esta organização diz querer intencionalmente acabar com a presença judia e cristã em terras ditas islâmicas. Quanto a acusação de colonialismo,
Manuela precisa explicar o motivo de Israel ter de lutar contra os britânicos na Palestina, como no caso da explosão do Hotel Rei David em Jerusalém. Bem como o motivo dos britânicos não terem aceito que o navio Exodus, lotado de refugiados da sanha nazista, não pudesse ancorar em Israel. E por aí vai.
Imaginem esta mulher com este calibre intelectual no cargo de Vice-Presidente do Brasil.
Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE
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