Boutlefika e a corrupção –
A Algéria enterrou no domingo passado o ex-presidente, Abdelaziz Bouteflika. Também conhecido por “Boutef” pelos argelinos. Ele foi o mais longevo presidente do país. Chegou ao poder em 1999 e saiu do mesmo em 2019. Estava em busca do seu quinto mandato presidencial mesmo adoentado. O poder lhe encantava. Conseguiu várias vezes mudar a constituição de modo a permitir sua reeleição.
Bouteflika lutou na batalha pela independência da França. Foi designado, em 1962, ministro das Relações Exteriores e tornou-se figura proeminente no movimento conhecido como “terceiro mundismo”. Na qualidade de presidente da Assembleia Geral da ONU convidou o líder da OLP, Yasser Arafat, para discursar. Também exigiu que fosse concedido um assento à China nas Nações Unidas e criticou a política do apartheid sul-africano.
Boutlefika teria aproveitado a alta do preço do petróleo, entre 2004 e 2014, para a construção de obras de infraestrutura e por aí teria saído o dinheiro da corrupção. Por exemplo, foi lançado, em 2006, o projeto da Rodovia Leste-Oeste conhecido como o “projeto do século”. A rodovia passaria pelas fronteiras com a Tunísia e Marrocos. Ela tornou-se o “escândalo do século”. O valor inicial da obra estava previsto para US$ 7 bilhões, contudo, ficou em US$ 14 bilhões.
Boutlefika foi acusado de ter roubado US$ 23 milhões de cofres públicos nos anos 80. Ele se autoexilou na Suíça e, posteriormente, nos Emirados Árabes Unidos Dubai. Tornou-se conselheiro da casa real local. As acusações foram, posteriormente, revogadas. Boutlefika que nasceu pobre tornou-se, no poder, um homem rico. Não deixou de ser sucessivamente eleito por isto. Algum caso similar à vista abaixo da linha do Equador?
Publicado originalmente em O Poder, 21/09/21
Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE