1- Os termos genocídio/genocida vem sendo vulgarizado nestes dias. É usado para banalizar todo caso de vitimização. Isto é muito comum entre intelectuais brasileiros, especialmente os que analisam a quantidade de negros mortos pela polícia (boa parte desta, composta de negros).

Até o loquaz Gilmar Mendes chegou ao ponto de chamar Bolsonaro de genocida. Como se os Governadores de Estado não tivessem, também, sua culpa no desastroso combate ao Covid-19.

Basta ler o artigo II da Convenção sobre Genocídio da ONU, aprovada em 1948 e posta em vigor em 1951, para perceber o tamanho da estultice desses intelectuais e do mencionado juiz.

2- Só acredito porque meus olhos viram. Guilherme Boulos, falando para dezenas de manifestantes no Largo do Batata, pediu uma salva de palmas (sic) para as vítimas fatais do Covid-19!!!!

Aglomerada, a plateia não respeitava o distanciamento social. Naquele momento, Boulos pode ter contribuído para novas vítimas.

Em Pernambuco, o governador libera a passeata defronte do prédio onde uma criança caiu do nono andar e morreu, mas prende uma pessoa que foi tentar usufruir da praia de Boa Viagem.

3- A Folha de S. Paulo divulga, na edição de hoje, que, sob o governo Bolsonaro, o número de investigações abertas para apurar supostas violações da Lei de Segurança Nacional bateu recorde. Foram 29 pedidos. Em 2018, foram 20 investigações abertas, contra 5 em 2017, 7 em 2016 e 13 em 2015 e em 2014, diz o jornal. O recorde deve ser quebrado em 2020.

Isto mostra o caráter da semidemocracia brasileira. A última versão da LSN é de 1983, diploma legal aprovado durante o governo do General Figueiredo. A LSN é o braço legal da Doutrina de Segurança Nacional que era usada pelo regime militar para capturar subversivos.

Portanto, desde 1985 a lei permanece intacta, ao contrário do que foi feito na Argentina, no Chile e no Uruguai.

É, destarte, um sólido enclave autoritário que nem a esquerda (em seus 15 anos de poder), ousou desafiar.

Esta é mais uma evidência da falta de ethos democrático em nosso país.

4- Repetirei pela milésima vez. Não há consenso científico sobre a possível relação causal entre homicídios e armas de fogo. Ou seja, não se pode dizer, categoricamente, nem que menos armas em circulação causam menos homicídios, nem que mais armas levam ao decréscimo no número de mortes. E suas variações.

O que há é uma politização do assunto. A esquerda advoga a restrição do número de armas e a direita o aumento delas. Há exemplos que contradizem os dois espectros. Há vários fatores que explicam os homicídios, e é muita pretensão achar que apenas o fator ‘armas’ pode explicar este fenômeno. Sem levar em conta que todas as pesquisas científicas feitas levam em conta apenas as armas oficialmente registradas.

No Brasil, consegue-se uma arma ilegal em qualquer feira “troca-troca”. Elas são importadas do Paraguai, via de regra, ou capturadas de forças de segurança estatais e/ou particulares, ou roubadas de “homens do bem”. E sua numeração raspada. O mesmo vale para a munição.

Há uma clara tentativa de manipular a ciência em nome de um agenda política.

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE; Consultor da Empower, Consultoria em Análise Estratégica e Risco Político

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