1- Quando Bolsonaro pediu que anunciantes não publicassem propagandas em determinados veículos de imprensa, foi acusado de querer sufocar a imprensa livre.
Contudo, quando a esquerda propõe o boicote a firmas que apoiam o governo, isto é considerado livre manifestação de opinião. Esta foi, inclusive, uma das razões da saída de Carlos Wizard do governo.
O Brasil está de ponta-cabeça.
2- Trump tentou tratar as manifestações pela morte de George Floyd como se estivesse em
uma República das Bananeiras. Calculou mal. Quis aparecer eleitoralmente como “o homem da lei e da ordem” e para isto ameaçou empregar tropas militares nos estados americanos, cujas polícias e guardas nacionais não dessem conta de reprimir os atos violentos. Trump fetichizou o uso dos militares na resolução de um problema de segurança pública. Embora nunca tenha feito serviço militar.
Acontece que as Forças Armadas americanas são expedicionárias e tratam da segurança externa do país. Há uma aversão histórica da população norte-americana para o uso de militares federais em assuntos domésticos. É verdade que as FFAA já foram usadas internamente, em raros casos, para a contenção de distúrbios. Em todos esses casos, entretanto, ficou claro que não havia outra alternativa.
Com Trump foi diferente. Ficou evidente que seu motivo era eleitoral. E aí houve o que a imprensa chamou de “revolta dos Generais”. Por exemplo, o Chefe do Estado Maior, General Mark Milles, pronunciou-se a favor do direito dos americanos de se manifestarem. O Ministro da Defesa, Mark Esper (civil), manifestou-se contra o uso do Exército e ordenou que as Guardas Nacionais, que já haviam sido mobilizadas, andassem desarmadas.
Nenhum dos dois foi demitido, e quem recuou foi Trump.
Isto se chama de ethos democrático. Exatamente o que falta em várias das Repúblicas das Bananeiras da América Latina.
Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE; Consultor da Empower, Consultoria em Análise Estratégica e Risco Político