1- O apressado come cru, diz o ditado popular. Quando Eduardo Bolsonaro afirmou que a pergunta não era mais SE haveria intervenção militar, mas QUANDO, ratifica o ditado.
A ameaça do STF de tomar o celular institucional do Presidente da República, dentre outros, motivou Cartas dos Clubes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Também irritou o Alto Comando do Exército. Contudo, apenas cinco, dentre quinze generais, se mostraram dispostos a atender o suposto chamamento do Presidente de fechar o STF.
Para desgosto do Deputado o hipotético plano foi abortado. Restou ao mesmo guardar um circunspecto silêncio. Bem como ao clã acossado pelo caso Queiroz.
Isto significa que a carta militar constantemente utilizada por Bolsonaro era nada mais do que um blefe. O interesse dele não mais converge com o das Forças Armadas neste ponto. Isto não significa que são divergentes em todos os outros.
As Forças Armadas não retiraram seu apoio ao governo Bolsonaro. Somente se algo flagrantemente ilegal surgir das investigações sobre Queiroz, é que os militares como instituição abandonarão o barco governamental. Afinal foi com Bolsonaro que eles conseguiram aumento no Orçamento, nos salários e na melhoria da Previdência Militar, sem precisar dar um tiro.
2- Vejo uma plêiade de articulistas tentando entender o comportamento das Forças Armadas na atualidade. Esquecem que a chave está, na verdade, na conduta dos civis.
Abaixo um certeira reflexão do grande cientista político Samuel Huntigton: “O esforço para responder à questão: ‘Quais são as características do establishment militar de uma nova nação que facilitam o envolvimento militar na política doméstica?’ está mal direcionada, porque as causas mais importantes da intervenção militar na política não são os militares, mas políticas. Refletem não as características sociais e organizacionais do establishment militar, mas as estruturas políticas e institucionais da sociedade”
Em suma, enquanto não alterarmos as presentes estruturas institucionais da nossa sociedade, a ameaça de uma intervenção militar em assuntos políticos domésticos continuará a pairar sobre nossas cabeças.
3- Os advogados dos investigados pelo ministro Alexandre Moraes estão inquietos. Simplesmente não tem acesso as autos; não sabem quantos são os investigados e por quais motivos.
Isto tudo cheira a autoritarismo da pior espécie. Cadê a OAB? E o Ministério Público? Isto sim é um autêntico golpe do Judiciário. Mas os juízes se posicionam como sendo os baluartes da democracia.
O Brasil está de ponta cabeça.
Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE
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