1- Vivi para ver o esquerdista presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, o grande crítico da militarização das tarefas policiais durante seus longos anos na oposição, consolidar o novo papel do Exército até março de 2024.
Quando estava na oposição seu mote era “abraços, e não balaços”. Agora se rendeu completamente a militarização da segurança pública.
E não apenas isto. O Exército passou a se imiscuir em negócios públicos. Por exemplo, lembra El País, “a maior concessão até agora foi a confirmação em março de que a construção e a operação do novo aeroporto da Cidade do México ficariam em mãos dos militares. O Exército não só construirá o terminal, mas também explorará as operações civis e comerciais por meio de uma empresa cuja direção será ocupada pelos militares. O Exército também ajudará a construir duas ramificações do Trem Maia, a obra pública de destaque do Governo, além do aeroporto”.
Para justificar tamanho salto carpado, López Obrador justificou-se com a seguinte pérola: “política é escolher ente inconveniências.”
2- A que ponto chegamos. O grande colunista Ruy Castro escreveu, hoje, na sua coluna na Folha de S. Paulo, que desejava que Bolsonaro morresse vitimado pelo covid- 19. A maioria dos comentários foram a favor da morte do PR.
Sinal de que pode emergir uma guerra civil no país.
Ruy precisa ter cuidado com as palavras, por várias razões. Dentre elas que o escritor Sérgio Sant’anna escreveu algo similar, e faleceu recentemete.
E que reza o ditado popular que a pessoa cuja morte é noticiada ou prevista falsamente tem vida longa.
3- FHC, mais uma vez, compara a situação do governo Allende com o de Bolsonaro.
Acerta ao dizer que quando um governante está fraco ele começa a nomear militares para o seu entorno. Isto
Bolsonaro vem fazendo em profusão.
Fora disso a comparação perde pertinência. A divisão política nas Forças Armadas chilenas era gritante. O general Schneider, ex-comandante em chefe das FFAA, foi assassinado pelo general Contreras.
Seu substituo, o general Prats, recusou-se a participar de movimentações golpistas contra Allende e foi afastado do cargo. Abrindo o caminho para assunção do general Pinocht, uma indicação, pasmem, do Partido Comunista Chileno. Pinochet se vangloria de ter enganado os comunistas.
No Brasil, até o momento em que escrevo, a hierarquia e disciplina das FFAA estão mantidas. Só não é possível dizer, cem por cento, que há uma separação entre o militar como instituição do militar como indivíduo, devido ao fato de dois ministros militares serem da ativa afora o porta-voz presidencial.
4- O corona trouxe à superfície nossas estruturas, dentre outros, sociais.
Somos capazes de propor uma quarentena para os “ricos” e exposição aberta para os pobres.
Enquanto os “ricos” podem ficar em casa sendo servidos via delivery, assistindo netlflix e usando a rede privada de hospitais, ao “pobre” é reservado outro destino.
A quarentena “pobre” é para inglês ver. Eles são obrigados a se aglomerarem em estações de metrô e andar em ônibus lotados. Violando o princípio de isolamento, cinicamente martelado em nossas cabeças. Tudo isto para servir aos “ricos”. Vão para o matadouro sem mugir, isto é o que espanta.
E ainda vem prefeitos e estabelecem rodízios de carros, aumentando a circulação das pessoas em ônibus e metrôs. E nada acontece com estes alcaides.
Todos bestializados assistem este festival de indiferença com a vida do próximo. Matam em nome de salvar vidas. Um oxímaro sanitário.
5- Em 6 de outubro de 2017, a então presidente do STF, a ministra Carmen Lúcia, soltou a seguinte pérola: ‘Se o brasileiro soubesse tudo o que sei, seria muito difícil dormir’. Desde então, tenho dificuldade em pegar no sono. Só imaginando….
O ministro Celso de Mello está muito preocupado com a transparência do inquérito envolvendo Bolsonaro e Moro.
Podia solicitar que a ministra revelasse o que está por detrás de suas graves palavras. Afinal, o que ela sabe de tão grave que nós não sabemos?
Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE; Consultor da Empower, Consultoria em Análise Estratégica e Risco Político