PEQUENO PRÍNCIPE E EU –

Nunca havia conhecido alguém que não goste do Pequeno Príncipe. Podem até não ter lido, mas sempre terão na ponta da língua: se tu me cativas minha vida será como que cheia de sol…

Até que um dia, mamãe me diz, em meio a uma chamada de vídeo despretensiosa: Padre Fábio de Melo não gosta do Pequeno Príncipe.

Nunca fui atrás da veracidade desta afirmação. Continuo com a ideia ingênua e genuína que as mães não mentem, portanto, não se faz necessário eu fazer levantamento bibliográfico e de ficha criminal para confirmar o conteúdo da conversa.

Passei dias pensando sobre isso e, enfim, decido-me por abrir o meu exemplar do Pequeno Príncipe. Sim, temos quatro dele aqui em casa. Um para cada filho, um comprado em Paris (como ir lá e não obter um exemplar em francês?) e o meu, da década de 1990, onde já li e reli tantas vezes, já o sublinhei com tantos grafites diferentes, que ele tem, realmente, a minha cara.

Começo a ler aquelas folhas amareladas e um pouco amassadas nas margens e, ao visualizar o chapéu, eu entendo que preciso me desligar de minha vida adulta e ler como na infância, com vozes para a Raposa, para a Rosa e para todos os moradores dos planetas visitados.

De repente, sinto as lágrimas descendo e molhando meu rosto. Primeiro, lentas, depois abundantemente elas caem, enquanto as páginas vão seguindo seu curso e a história vai chegando ao fim.

Talvez o padre Fábio não goste do Pequeno Príncipe. Talvez o “você é eternamente responsável pelo que cativa” seja muito forte e nos deixa com uma obrigação até mesmo leviana sobre coisas e pessoas que não temos direito de aceitar, mas eu ainda continuo a ler este livro todas as vezes que o mundo adulto me sufoca e preciso fugir para uma infância esquecida, onde aprendo com Rosas, Raposas e Baobás. E, claro, com um Pequeno Príncipe livre de malícia, puro de coração e repleto de bondade.

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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