Todo mundo sabia que Eduardo Campos era o candidato mais bem preparado para disputar a Presidência da República. Afaste-se o tom peleguista, e será fácil perceber que o Brasil vive hoje entre uma gerentona sob o pálio do PT, e um neto de Tancredo Neves que mesmo tendo governado Minas Gerais duas vezes consecutivas, não transfere ao eleitor a marca da segurança política e das ideias do candidato que deixou o governo de Pernambuco e sonhou conquistar o povo brasileiro.
Campos, mesmo confinado ao seu estado – Recife é uma caixa de ressonância de alcance no máximo regional – foi capaz de chegar a ministro de estado do Governo Lula, eleger-se e reeleger-se governador, e derrotar nas urnas o candidato petista a prefeito de Recife. Manejava bem, e com boa destreza, o jogo de conceitos em função da prática política, a ponto de propor o que chamou de ‘um novo modelo de governança’ solapando o sistema imperialista do presidencialismo brasileiro.
Campos sabia – mesmo com forças reduzidas a uma expressão que tinha apenas o tamanho do Nordeste – que Dilma Rousseff, apesar do passado de esquerda e da formação socialista, não conseguiu corrigir o fastio do PT para o avanço. Ao longo dos oitos anos de Lula, e mais quatro do seu governo, os petistas, comprometidos com os despossuídos, sequer conseguiram romper o pacto conservador que ainda posterga, indefinidamente, as nossas reformas política, econômica e social.
Herdeiro de Miguel Arraes e presidente do PSB, um partido que ostenta o socialismo na sua própria sigla, Eduardo Campos não era um espadachim a espargir o perfume de um populismo que tudo prometia. Mas, talvez por isso, por não ter a armadura de esquerda como mero artifício, tivesse as condições ideais para promover as reformas que a esquerda petista não conseguiu, reduzida que ficou a um modelo assistencialista de distribuição de renda que mata a fome, mas não é libertação.
Doze anos depois da hegemonia petista, estabilizada pela aliança com o PMDB, o país não empreendeu uma só das reformas pautadas desde a campanha das Diretas. Não mudamos o modelo tributário que concentra riqueza nas mãos federais; não fizemos a reforma política; não atualizamos as conquistas constitucionais. E não faltaram sindicalistas progressistas no Palácio do Planalto nem aliados os mais estranhos como Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney e Renan Calheiros.
É possível que a candidatura de Eduardo Campos sequer ultrapassasse as velhas pontes do Capibaribe, mas sua retórica tinha a modernidade que a nova gestão exige. Sem a clicheria superada de um esquerdismo ineficaz, mas também sem a força aliancista extremamente conservadora que tem paralisado o avanço do modelo democrático brasileiro. Aquele que Eduardo Campos praticou no governo de Pernambuco ao longo de oito anos convivendo sem medo com o público e o privado.
Vicente Serejo – Jornalista e Escritor